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A importância do seguro pecuário e a consciência do mercado

Especialistas comentam sobre como garantir o futuro da pecuária no Brasil

Por Tany Souza

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de março desse ano, o setor agropecuário cresceu 15,1% em 2023, com total de R$ 677,6 bilhões. Essa foi a maior alta entre as atividades, o que influenciou diretamente no Produto Interno Bruno (PIB), que aumentou 2,9%, somando R$ 10,9 trilhões.

Porém, segundo o relatório, o maior crescimento é oriundo, principalmente, da produção e ganho da agricultura. Isso significa que ao desmembrar, a pecuária ainda está aquém do ideal de um mercado positivo e produtivo.

Um dos desafios foi a onda de calor no país, que aconteceu recentemente, e gerou preocupações no que se diz respeito a perdas de produtividade, no caso de mortes dos animais, ou até mesmo, a rotina modificada de alimentação e de engorda, decorrente das altas temperaturas.

Karen Matieli

Há ainda outro desafio, segundo Karen Matieli, corretora e CEO da Denner Agro Corretora de Seguros, especialista em seguro pecuário, “O setor ainda é mais conservador se comparado a agricultura na adesão de ferramentas de mitigação de riscos, como o seguro pecuário por exemplo. Por mais que tenha crescido em contratações em apólices, ainda assim estima-se que apenas 1% do rebanho brasileiro tenha seguro”.

Para ela, há uma razão pela qual os pecuaristas não investem em seguro pecuário. “É o fato de serem mais conservadores, tendem a seguir modelo de gestão como seus pais e avós seguiam, e o seguro pecuário é relativamente novo no mercado”.

O dia a dia

Outro desafio é assegurar animais com genoma elevado, que são seus ativos de produção muito valorizados pelo mercado. “Para mim, seria muito mais vantajoso ter um seguro que acobertasse todo um rebanho que é mais de mil cabeças, mas hoje a limitação de subvenção não permite isso. O prêmio ainda fica muito alto para aquilo que queremos assegurar”, reforça Jônadan Hsuan Min Ma, presidente da comissão técnica da pecuária de leite da FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e também vice-presidente da Comissão Nacional de Leite da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Jônadan Hsuan

A subvenção é fundamental para que o seguro pecuário seja possível, segundo Jônadan, considerando a falta de cultura do seguro rural e baixo nível de adoção desse recurso. “Se não fosse a subvenção, seria inviável pelos preços elevados dos prêmios. Hoje é fundamental para o seguro rural, tanto agrícola como pecuário, até que haja uma cultura, que se torne praxe, assim como há em outros países desenvolvidos. O governo precisa entender a necessidade, para essa demanda, inclusive para mitigar os riscos, como os problemas oriundas da frustração de safra e de algo que precisamos melhorar que é o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). Falta um programa de incentivo a pagamento de indenizações para animais acometidos dessas doenças, acredito que apenas dessa forma que vamos realmente acabar com essas mazelas no Brasil. Tem que ter investimento do governo”.

“Eu acredito que a questão é mais cultural, ou seja, ter a conscientização de que investir no seguro pecuário é tão importante quanto fazer o seguro do veículo. Quando isso acontecer, certamente teremos um percentual maior do rebanho com seguro e, consequentemente, uma atividade mais protegida e sustentável”, comenta Karen Matieli.

A visão do mercado segurador

Para Daniel Nascimento, vice-presidente da Comissão de Seguro Rural, da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), o seguro pecuário é indiscutível para o crescimento sustentável da segurança econômica na atividade pecuária. “O seguro desempenha um papel crucial ao proteger os pecuaristas contra os imprevistos que podem impactar suas operações, permitindo-lhes manter a estabilidade financeira mesmo diante de adversidades inesperadas”.

Daniel Nascimento

Porém, é observado no segmento de seguro rural uma disparidade significativa entre o número de seguradoras que atendem modalidades agrícolas em comparação com aquelas que atendem a modalidade pecuária. “Essa disparidade pode ser atribuída a vários fatores. Anteriormente, a pecuária era vista como uma atividade de baixo risco, refletindo em um mercado de seguro pecuário relativamente pequeno, com um volume de negócios em torno de R$ 5 milhões. Essa percepção de baixo risco se baseava na capacidade do produtor de vender os animais a qualquer momento, o que obscurecia a percepção da redução de seu patrimônio em caso de sinistro”.

Uma das principais barreiras para a entrada de novas seguradoras nesse mercado, segundo o vice-presidente da FenSeg, é a falta de profissionais com expertise em pecuária dentro das próprias seguradoras, inclusive dentro das resseguradoras. “A compreensão profunda das nuances da atividade pecuária é essencial para o desenvolvimento de produtos de seguro adequados e para uma avaliação precisa dos riscos envolvidos”.

É preciso ressaltar que ainda há um enorme potencial de crescimento para o mercado de seguro pecuário no Brasil. “É encorajador observar que este segmento é o que mais cresce em termos percentuais no ramo rural, demonstrando que os pecuaristas estão cada vez mais conscientes dos riscos envolvidos em sua atividade e buscando soluções de proteção adequadas”, finaliza Daniel Nascimento.

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