Tarifas dos EUA e agricultura regenerativa: riscos e oportunidades para o agro brasileiro
- 15/ setembro / 2025
A resposta do Brasil às tarifas externas pode definir se o país será pressionado ou protagonista na transição para práticas regenerativas

Elaine Teixeira
As tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos nos últimos anos abriram um novo capítulo na relação entre comércio exterior e sustentabilidade agrícola. Em 2018, em meio à guerra comercial com a China, os EUA aplicaram tarifas de até 25% sobre importações de aço, grãos, carnes e produtos alimentícios. O Brasil, embora não diretamente envolvido na disputa, sentiu os efeitos. As exportações brasileiras de soja para os EUA caíram cerca de 15% naquele ano, segundo o Ministério da Economia. Para a carne bovina, os custos adicionais chegaram a 20%, dificultando o acesso a um dos mercados mais valorizados do mundo.
Essas barreiras comerciais não são apenas medidas econômicas — cada vez mais, refletem exigências ambientais e sociais. Tarifas ou restrições vinculadas a critérios de desmatamento zero, uso de agroquímicos ou bem-estar animal vêm se tornando mais frequentes. Esse movimento pressiona países exportadores, como o Brasil, a reavaliar suas práticas agrícolas e alinhar-se a padrões sustentáveis exigidos por consumidores e governos estrangeiros.
Nesse contexto, ganha relevância a agricultura regenerativa. Diferente da agricultura apenas sustentável, que busca minimizar impactos, a regenerativa promove a recuperação ativa dos ecossistemas agrícolas. Ela favorece a biodiversidade, melhora a saúde do solo, sequestra carbono e torna os sistemas produtivos mais resilientes a mudanças climáticas. Segundo o Rodale Institute, práticas regenerativas podem aumentar a produtividade do solo em até 40% em uma década, além de capturar entre 5 e 10 toneladas de carbono por hectare ao ano.
No Brasil, essa abordagem vem ganhando força em regiões como o Sul e áreas com integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Estudos da Embrapa indicam que fazendas que adotam práticas regenerativas podem reduzir o uso de fertilizantes sintéticos em até 50%, além de melhorar indicadores de biodiversidade e estabilidade produtiva.
Tarifas ambientais, quando bem estruturadas, podem funcionar como incentivos à transição. Programas de certificação internacional, como Rainforest Alliance e Fair Trade, valorizam produtos cultivados com práticas regenerativas. Esses produtos podem alcançar preços até 50% superiores no mercado internacional. De acordo com a FAO, a renda média de agricultores que adotam práticas regenerativas pode crescer entre 20% e 30% ao longo de dez anos, graças à redução de custos e ao maior valor agregado.
Por outro lado, o impacto econômico imediato das tarifas pode ter efeitos contrários. Ao reduzir a rentabilidade das exportações, elas podem levar produtores a buscar alternativas de curto prazo, como a ampliação desordenada da área cultivada — muitas vezes às custas da vegetação nativa. Além disso, práticas regenerativas exigem investimento inicial, assistência técnica e acesso a crédito. Em cenários de retração econômica, esse caminho torna-se menos viável, especialmente para pequenos e médios produtores.
A resposta estratégica precisa ser articulada. A política externa dos EUA vem utilizando tarifas como instrumento de diplomacia ambiental, pressionando países como o Brasil a revisar suas políticas de uso da terra. Para aproveitar as oportunidades desse novo cenário, o Brasil precisa ampliar programas de apoio à transição agroecológica, investir em capacitação rural, facilitar o acesso a certificações e alinhar sua política comercial com compromissos ambientais.
A agricultura regenerativa pode transformar o desafio imposto pelas tarifas em uma oportunidade de posicionamento internacional. Mas isso exige um esforço coordenado entre governos, setor produtivo e cooperação internacional. Tarifas, por si só, não são políticas ambientais eficazes. Podem incentivar boas práticas, mas também gerar distorções e efeitos colaterais. O que define o resultado é a forma como os países respondem.
Se o Brasil souber aproveitar esse momento para investir em inovação, ampliar a assistência técnica e valorizar seus ativos ambientais, poderá consolidar uma agricultura mais competitiva, resiliente e ambientalmente responsável no cenário global.