Seguro rural e mercado de carbono: convergências para um agro mais resiliente
- 25/ agosto / 2025
A união entre seguro rural e mercado de carbono pode transformar riscos climáticos em oportunidades de renda e resiliência no campo

Elaine Teixeira
O seguro rural é uma das ferramentas mais importantes para mitigar os riscos climáticos que afetam a produção agrícola. Mesmo assim, no Brasil, ele ainda é pouco utilizado. Em 2024, apenas 13,8 % da área cultivada no país estava segurada, segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). Esse índice é especialmente preocupante diante da crescente frequência de eventos extremos, como estiagens prolongadas, geadas e chuvas intensas.
Dados do 1º trimestre de 2025 indicam um aumento na inadimplência do crédito rural: 7,9 % na média geral, com os grandes produtores atingindo 10,2 % de inadimplência. Pequenos e médios produtores também foram impactados, com índices de 6,9 % e 7,2 %, respectivamente (Serasa Experian). A ausência de proteção adequada agrava os efeitos financeiros de perdas climáticas e pressiona o endividamento rural.
Nesse cenário, o mercado de carbono surge como uma alternativa complementar e estratégica. Com a aprovação da Lei nº 15.042/2024, o Brasil avança na criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que estabelecerá um mercado regulado de carbono. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o agro pode captar até R$ 50 bilhões em receita com créditos de carbono até 2030, desde que as regras e metodologias estejam bem definidas.
Hoje, no mercado voluntário, produtores que adotam práticas como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e agricultura regenerativa já conseguem comercializar créditos de carbono. Os valores variam de R$ 40 a R$ 150 por hectare/ano, conforme a metodologia empregada e a certificação adotada.
Embora ainda incipiente, a integração entre o seguro rural e o mercado de carbono já começa a ser testada. Uma iniciativa piloto envolvendo o Ministério da Agricultura, a ProNatura e o Conselho Nacional do Café (CNC) avalia a concessão de descontos em apólices de seguro rural para produtores que adotam práticas que reduzem emissões de gases de efeito estufa. O projeto, implementado em cooperativas mineiras, é um passo importante para vincular segurança financeira e sustentabilidade ambiental.
Essa convergência oferece vantagens práticas:
Por outro lado, há entraves. O mercado de carbono exige medição rigorosa, validação técnica, custos de certificação e um arcabouço jurídico estável. Já o seguro rural enfrenta desafios como a padronização excessiva das apólices, falta de personalização regional e baixos níveis de adesão, especialmente entre pequenos produtores.
Programas como o RenovaAgro, lançados em 2025, tentam preencher essa lacuna. A iniciativa oferece linhas de crédito verdes, assistência técnica e incentivos para práticas que conciliem produção e conservação. A inclusão do mercado de carbono no planejamento rural, integrada a políticas de seguro e crédito, é uma estratégia viável para estruturar a agricultura em bases mais resilientes.
Integrar seguro rural e carbono não é uma fórmula mágica, mas representa um avanço promissor. A transição para uma agricultura de baixo carbono exige instrumentos financeiros articulados. Quando bem desenhados, podem proteger o produtor, gerar nova renda e fortalecer o papel do campo na mitigação da crise climática.