Seguro rural e agronegócio: desafios e soluções diante das mudanças climáticas
- 25/ fevereiro / 2025
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Com temperaturas elevadas e impactos na produção agrícola, especialistas destacam a importância do seguro rural, da tecnologia e de estratégias sustentáveis para garantir a produtividade no campo
Por Tany Souza
Nesta data, celebramos um dos pilares da economia brasileira: o agronegócio. Segundo levantamento do CEPEA/Esalq/USP em parceria com a CNA, o setor representou 21,8% do PIB nacional em 2024. Para 2025, a expectativa é de um crescimento de até 5%, impulsionado pelo aumento da produção agrícola, especialmente de grãos, além do fortalecimento da indústria de insumos e da agroindústria exportadora.
O aumento das temperaturas tem sido um dos maiores desafios para o agronegócio brasileiro. O calor excessivo registrado nos primeiros meses de 2025 tem preocupado pesquisadores e produtores, que enfrentam dificuldades com a irregularidade das chuvas e o aumento da temperatura média. Especialistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Agronômico (IAC) alertam que esse cenário deve se intensificar nos próximos anos, exigindo dos agricultores investimentos em tecnologia para garantir a produtividade e a sustentabilidade no campo.
Segundo dados do Posto Meteorológico “Jesus Marden do Santos”, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP), a temperatura média registrada nos 11 primeiros dias de fevereiro foi de 25,5°C, acima da média histórica de 24,8°C. Além disso, as mínimas e máximas também superaram os padrões esperados, chegando a 35-37°C em algumas regiões. Essa variação impacta diretamente o desenvolvimento de diversas culturas prejudicando a qualidade da safra e reduzindo o potencial produtivo.
A atuação do seguro
O setor cafeeiro é um dos mais afetados pelas temperaturas elevadas. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) aponta que a combinação de chuvas abaixo do esperado e calor intenso tem prejudicado a formação dos grãos. A safra de 2025/26 já foi impactada pela seca de 2024, e os cafeicultores temem uma nova perda significativa caso as temperaturas sigam elevadas nos próximos meses.
“As seguradoras ainda não têm cobertura de temperaturas altas para cafezal recém-plantado ou hortaliças, creio que por ser uma necessidade mais recente devido as alterações de temperatura de 2024 para cá. Mas já há o modelo paramétrico para cobrir períodos sem chuva, bem como seguro multirrisco para lavouras em produção, seja café ou grãos”, comenta Wyviane Rodrigues, a sócia-diretora da Corretora WR Seguros Rurais.
O seguro multirrisco pertence ao seguro agrícola, inclusive com subsídio do governo. “Esse seguro cobre vários riscos climáticos, e isso inclui temperatura alta e falta de chuva, serve para cafezal em produção, e também milho, soja. Já o seguro paramétrico cobre a falta de chuva, para cafezal, grãos e outras culturas”, completa Wyviane.
Izabela Rücker Curi, advogada, sócia fundadora do Rücker Curi – Advocacia e Consultoria Jurídica e da Smart Law, reforça ao explicar a importância do seguro rural. “O recurso é importante para mitigar riscos inerentes à atividade agrícola provocados por variações climáticas cada vez mais comuns. O seguro permite minimizar perdas, garante sustentabilidade, estabilidade financeira, segurança alimentar, é um incentivo à modernização, permite investimentos em práticas mais eficientes e novas tecnologia, e dá acesso ao crédito, já que muitos bancos exigem seguro rural para liberação de financiamentos agrícolas”.
Existem várias modalidades de seguros rurais voltadas às diferentes necessidades dos produtores. Cada uma pode ser ajustada conforme as necessidades e características específicas do que é produzido no campo. “Um dos mais comuns é o seguro agrícola, que protege a lavoura no que se refere tanto ao custo de produção quanto à produtividade. O seguro pecuário cobre a morte de diferentes tipos de rebanho, incluindo bovino, suíno, ovino, caprino e outros. O seguro de florestas é particularmente importante para quem trabalha com silvicultura e práticas de reflorestamento. No ramo de criação de peixes, camarões e outros organismos aquáticos, existe o seguro de aquicultura”, explica Izabela.
E ela continua ao dizer que “Danos a instalações e estruturas de propriedade rural, a equipamentos agrícolas, máquinas e estoques de produtos agropecuários podem ser mitigados pela contratação do seguro de benfeitorias e produtos agropecuários. Já o seguro de penhor rural é voltado à proteção de bens colocados como garantia de crédito rural. Menos comum, mas não menos importante, o seguro de receitas cobre a variação de preços ou receitas obtidas pelo produtor em suas atividades”.
Além disso, há o seguro de vida do próprio produtor rural. “O produto garante cobertura em caso de morte ou invalidez do trabalhador do campo, oferecendo maior proteção financeira a familiares ou sucessores. Dependendo da apólice, esta modalidade pode incluir assistência para continuidade da atividade agrícola desempenhada em caso de ocorrência de sinistro”.
Assim, no momento da contratação de um seguro rural, o primeiro passo é fazer uma análise das principais necessidades da atividade desempenhada. “Para isso, é importante consultar um corretor especializado. A escolha de uma boa instituição especializada nesse tipo de produto – seja ela uma seguradora privada ou cooperativa – é fundamental. A mesma deve ser credenciada pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), órgão que regulamenta o setor de seguros no Brasil”, finaliza ela.