O impacto do tarifaço na pecuária brasileira
- 18/ agosto / 2025
Tarifa de 50% imposta pelos EUA ameaça exportações, derruba preços no Brasil e pressiona o mercado global de carne bovina

Karen Matieli
No dia 1º de agosto de 2025, os Estados Unidos implementaram uma taxa adicional de 40% sobre produtos brasileiros — que se somou aos 10% já vigentes desde abril — resultando em uma carga total de 50%, o que compromete diretamente o agronegócio nacional, especialmente a pecuária.
Segundo a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), o volume de carne bovina exportado para os EUA deve cair cerca de 50% em 2025, reduzindo de 400 mil para aproximadamente 200 mil toneladas.
Com essa queda abrupta nas exportações, a carne bovina ficará disponível no mercado interno, pressionando os preços pagos aos produtores. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima perdas de até US$ 5,8 bilhões em exportações para os EUA, uma queda de 48% em comparação a 2024.
Adicionalmente, o CEPEA/Esalq-USP aponta que as tarifas podem intensificar a demanda externa por produtos agropecuários brasileiros, ainda que a instabilidade global repasse efeitos negativos, como redução de investimentos, desemprego e queda no poder de compra dos consumidores locais.
Segundo dados do farmdocDaily, em 2024, os EUA foram o segundo maior destino da carne bovina brasileira — representando 8% das exportações totais do setor. Até junho de 2025, as remessas caíram de 48 mil toneladas em abril para apenas 18 mil em junho — uma queda de 62%. A Rússia prevê perdas superiores a US$ 1 bilhão para a indústria no segundo semestre.
A tarifação também reverbera nos seguros rurais, já que menores margens e receita imprevisível elevam o risco financeiro na atividade pecuária. Apesar de o seguro não cobrir flutuações de mercado, ele cobre os investimentos diretos na criação — essencial para proteger o capital produtivo perante incertezas.
No exterior, a restrição de volume brasileiro ameaça o abastecimento de carne nos EUA. A Reuters aponta que os importadores americanos enfrentam escassez, inclusive redirecionando seus pedidos à Austrália — com aumento de preços nos cortes moídos usados em hambúrgueres.
O governo brasileiro reagiu com um pacote emergencial: anunciou na última semana uma linha de crédito de 30 bilhões de reais via Fundo Garantidor de Exportações e aportes adicionais de 4,5 bilhões para pequenos exportadores. Medidas de desoneração tributária e estímulo ao consumo interno também foram implementadas.
Ainda que o seguro pecuário não cubra variações de mercado, ele protege o investimento direto na criação.
Em um cenário de incertezas, preservar a vida dos animais é preservar o capital produtivo da fazenda.