11 de November de 2025
Colunista - Karen Matieli

Menos verba, mais risco: porque a pecuária não pode ser esquecida no PSR

  • 21/ julho / 2025

O possível contingenciamento de recursos no PSR ameaça a consolidação do seguro pecuário no Brasil e compromete os avanços em gestão de risco no setor

Karen Matieli

Nos bastidores de Brasília, uma notícia acendeu o sinal amarelo para quem trabalha com seguro rural: o orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) pode sofrer um corte de R$ 445,1 milhões ainda neste ano.

Pode parecer só mais um alarme, mas para o produtor — especialmente o pecuarista — isso tem um peso bem maior do que parece.

Historicamente, a maior parte da verba do PSR já vai para o seguro agrícola, com foco nos grãos. É natural, afinal, é onde está a maior demanda. Mas o problema é que o seguro pecuário, que já recebe uma fatia pequena do bolo, pode acabar com as migalhas — ou até sem nada — se esse contingenciamento se confirmar.

E por que isso preocupa?

Porque o seguro pecuário ainda está em fase de construção no Brasil. Estamos falando de uma modalidade que vem ganhando espaço aos poucos, com esforço de corretores e seguradoras, principalmente, dos produtores que estão começando a entender o seguro não como um custo, mas como parte da estratégia de proteção do seu principal ativo: os animais da fazenda.

Só que sem subvenção, o custo do prêmio se torna impraticável para muitos. A adesão cai. A confiança no produto diminui. O mercado desacelera. Ou seja: retrocedemos anos em poucos meses.

E na prática, o que está em jogo?

O seguro pecuário pode cobrir situações como a morte de animais por raio, ataque de animais selvagens, acidentes em transporte, intoxicação por ingestão de plantas tóxicas, doenças como carbúnculo sintomático ou raiva — além de eventos climáticos extremos, como geadas ou enchentes.

Imagine um criador que perde 20, 30, 50 animais em um único episódio. Para muitos, esse tipo de perda representa meses ou até anos de trabalho. Sem seguro, o prejuízo vai direto para o bolso do produtor.

A pecuária, como todos sabemos, tem riscos tão relevantes quanto a agricultura. Mas diferentemente dos grãos, onde o seguro já é mais consolidado, na pecuária o apoio público ainda é fundamental para viabilizar essa proteção.

Se o orçamento do PSR encolher, quem perde é o produtor. E mais: perde o País, que deixa de avançar em segurança alimentar e estabilidade no campo.

É hora de reagir.

Entidades representativas da pecuária, cooperativas, sindicatos rurais e lideranças do setor precisam se mobilizar e mostrar que o seguro pecuário não pode mais ser tratado como coadjuvante. Essa é uma agenda urgente e estratégica.

O campo precisa — e merece — políticas públicas que valorizem todas as pontas da cadeia produtiva. Não se constrói um agro forte deixando a proteção da pecuária para trás.