“Seguro rural tem de ser tratado como uma política de Estado”
- 6/ maio / 2025
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Nesta entrevista exclusiva ao portal Seguro Rural Brasil, Paulo Hora, superintendente executivo de Negócios e Soluções Rurais da Brasilseg, fez uma análise do atual panorama do setor e a posição da BB Seguros no mercado
Por Carlos Alberto Pacheco
Seguro Rural Brasil – Na visão da BB Seguros, 2025 será um ano desafiador para o seguro rural? Por quê?
Paulo Hora* – O agronegócio é feito de ciclos, mas o setor é resiliente, pujante e com demanda crescente por produtos em todas as cadeias de alimentos e energia, principalmente. Para este ano, além das questões climáticas que se tornaram assunto permanente, vemos um ano com desafios para o setor agropecuário em função do custo de produção, para as principais culturas e também para a pecuária, que se mantêm elevados. Esse fato, combinado com a volatilidade do preço das commodities, tende a manter pressão sobre a margem do produtor rural.
SRB – E sobre a questão geopolítica?
PH – A geopolítica é mais um fator de volatilidade que precisa ser acompanhado de perto, sob a ótica de possíveis impactos no agronegócio. Também é um ano de incertezas quanto ao mix de crédito rural, que estará disponível ao produtor no plano safra 25/26, e a taxa de juros.
SRB – Qual é a sua percepção de risco no atual cenário?
PH – Vemos com otimismo o cenário do seguro rural, apesar dos desafios conjunturais, que são cíclicos. Esse otimismo se dá por alguns fatores. A percepção de risco nas diversas cadeias, e também por quem financia a agricultura, tem aumentado, seja pelas perdas por eventos climáticos, seja por redução de rentabilidade por preços, que culmina em inadimplências, renegociações de dívidas, recuperações judiciais, e mais custo para o orçamento público e para a sociedade em geral.
Nesse cenário, fica mais notório e destacado a importância de estratégias de mitigação de risco, nas quais a transferência de risco através do seguro rural, é a base e principal ferramenta de estabilização. Logo, temos visto uma convergência dos diversos atores em fortalecer o seguro rural no Brasil. O Brasil tem avançado nas estratégias de mitigação de risco, combinando iniciativas técnicas com investimento em tecnologia, manejo e gestão nas propriedades rurais, tornando a agricultura mais resiliente e sustentável, com instrumentos de proteção de perdas, como o seguro, dando estabilidade ao produtor.
SRB – Como a BB Seguros se posiciona neste mercado?
PH – A BB Seguros também está preparada para ofertar soluções cada vez mais aderentes a essas necessidades, com bastante investimento em produtos para os diversos segmentos do campo, tanto na agricultura, quanto na pecuária e no segmento florestal. Nos mantemos presentes e próximos aos produtores nas diferentes regiões em todos os municípios com produção agropecuária.
SRB – A atual subvenção do PSR tem sido suficiente para o estímulo à proteção ao produtor rural?
PH – Temos observado uma convergência de esforços entre o governo e as lideranças do agronegócio, com um diálogo cada vez mais alinhado em torno de demandas e propostas que fortaleçam o seguro rural como principal estratégia de proteção da atividade agropecuária. O seguro rural precisa ser visto, cada vez mais, como uma estratégia de risco dentro da política agrícola nacional e integrada a uma visão mais ampla de segurança alimentar. Tem de ser tratado como uma política de Estado. É isso o que outros países com agricultura forte e seguro amplo fizeram: incorporaram a proteção como estratégia de risco dentro da política agrícola nacional.
No Brasil, menos de 8% da área plantada têm seguro com acesso ao PSR, algo em torno de 7 milhões de hectares, e as contratações estão mais concentradas nas culturas de soja e milho, mesmo com uma oferta de proteção no mercado para mais de 62 culturas. A subvenção ao prêmio de seguro tem o objetivo, no escopo do programa público-privado, de fomentar a demanda e ajudar na expansão e universalização do acesso a nível nacional.
SRB – Quais são os desafios na esfera pública?
PH – É importante destacar mais alguns aspectos estruturalmente ligados ao desafio de crescimento desse segmento. O primeiro deles é cultural, em que é preciso trabalhar a cultura de proteção no campo. Da mesma forma, os agentes que financiam as diversas atividades são atores importantes, que assumem risco, seja através do Sistema Financeiro Nacional (SFN), com as linhas atreladas ao crédito rural, ou através das outras formas privadas de financiamento, que são vultosas, e podem ter mecanismos de proteção mais robustos como o seguro.
Do lado da oferta, fundos de catástrofe e resseguro, que dão maior estabilidade à volatilidade das perdas financeiras das seguradoras, são também pilares fundamentais nessa construção. Além disso, formação de profissionais, integração de base de dados de variáveis importantes para análise de risco e desenvolvimento de novos produtos, capacitação de canais de distribuição e padronização de procedimentos, em especial nas operações de sinistro, completam temas importantes para o avanço constante do seguro rural no Brasil, em complemento a política de subvenção ao prêmio de seguro.
* Paulo Hora é responsável pelos produtos da carteira de seguros de agronegócio, que contempla os ramos de seguros rurais (agrícola, floresta, pecuário, vida rural, penhor rural, aquícola e benfeitorias, máquinas e equipamentos rurais). Além dessa carteira, respondo pela operação de resseguro das carteiras, rural, vida, residencial e empresarial. É pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).