19 de February de 2025
Exclusivo

Os reflexos da posse de Trump no mercado agro brasileiro

  • 24/ janeiro / 2025
  • 0

Falas do atual presidente dos EUA levantam questões entre especialistas

Por Tany Souza

Ao assumir a presidência dos Estados Unidos no último dia 20, Donald Trump fez promessas de mudanças no comércio internacional. Esse tema ficou em evidência e ganha cada vez mais destaque entre os especialistas do mercado agro e rural, e até mesmo de geopolítica, destacando as opções comerciais dos americanos.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o fluxo comercial entre Brasil e Estados Unidos alcançou cerca de US$ 81 bilhões em 2024, com exportações brasileiras somando US$ 40,33 bilhões, marcando um novo recorde, e importações totalizando US$ 40,58 bilhões. O relatório também destacou os principais produtos exportados para os Estados Unidos ao longo do ano.

Em declaração publicada no portal G1, o presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirmou que o Brasil, de fato, precisa mais dos Estados Unidos — o maior comprador mundial. Porém, ponderou ao lembrar que muitas empresas norte-americanas têm representação no Brasil, e que as trocas comerciais acontecem, neste caso, entre matrizes e filiais.

“O que o Trump falou tem uma certa razão, mas na prática não se aplica. É mais uma frase de efeito. Pode se dizer que eles precisam um pouco da gente, é uma verdade. Pergunta a uma matriz americana que exportam para o Brasil o que eles acham. Acham ótimo. No fundo no fundo, precisam”, avaliou José Augusto de Castro, da AEB.

Durante o podcast Inteligência Ltda., apresentado por Rogério Vilela, com o tema “Posse de Trump”, o professor de geopolítica Ricardo Marcílio levantou algumas hipóteses sobre o que pode acontecer a partir de agora, considerando o fluxo comercial entre Brasil, EUA e China.  “Há uma pesquisa feita aqui no Brasil indicando que se os americanos colocarem taxas nos chineses, como eles estão prometendo, e a China retaliar, isso pode aumentar a exportação agrícola do Brasil para os chineses na casa de 9 milhões de toneladas por ano, só por conta dessa guerra comercial entre Estados Unidos e China. Em curto prazo, não tem preocupação, porque deve preocupar. Embora afete o mundo inteiro de maneira negativa, para o setor agrícola brasileiro pode ser positivo, principalmente para o exportador tipo de milho e de soja”.

Para o sócio do escritório Briganti Advogados, especialista em direito tributário e em administração de empresas, Leonardo Briganti, o Brasil é um fornecedor muito representativo aos Estado Unidos. “E, obviamente, ainda que a elevação de alíquotas de importação para o mercado americano possa gerar perda de competitividade aos produtores brasileiros, é também consequência lógica de tal medida gerar dificuldades aos próprios consumidores americanos, com possível elevação do custo de aquisição destes produtos, até que novos fornecedores, comparáveis aos brasileiros, possam ser contratados. Veja que, do ponto de vista de relevância, o Brasil é hoje um grande fornecedor de produtos do Agro aos Estados Unidos, a relação comercial é bastante significativa”.

Ele reforça que esse momento de incerteza causa verdadeira insegurança aos produtores brasileiros, “ Caso haja taxas de importação mais severas, podem sofrer com perda de competitividade em relação a produtores de outras nacionalidades. E ainda que como dito acima, nossa representatividade em relação ao mercado americano talvez seja uma variável que possa pesar nesta tomada de decisão ao próprio mercado interno americano, é, sem dúvida, momento de atenção e planejamento aos produtores brasileiros que, por prudência, deveriam buscar amplificar sua atuação em outros mercados, como maneira de diversificar suas fontes de receita, como mercado asiático, europeu, entre outros”.

Sobre o produtor rural

Para a Sócia-diretora da Corretora WR Seguros Rurais, Wyviane Rodrigues, essa guerra comercial ainda é muito especulativa e há outros empecilhos para o produtor. “Se houver, acredito que seja positiva para o Brasil aumentar suas exportações do agro. Porém se o dólar não baixar os insumos agrícolas continuarão altos e o custo do produtor também”.

Ela explica que há diversos seguros que podem ajudar o produtor na exportação de seus produtos. “Como o de transporte internacional, seja marítimo ou aéreo. O mais usado pelo agro hoje é o transporte terrestre, ou seja, o que tira a mercadoria lá do campo e leva para um consumidor, um distribuidor ou uma produtora da indústria. Mas o seguro para risco climático é um dos mais importantes, por que prevê a falta e excesso de chuva, vento forte, granizo, geada, temperatura muito alta. Tudo isso é possível contratar dentro do seguro rural”.

Segundo a zootecnista Elaine Teixeira, nós ainda temos muitos produtos atrelados à moeda, ao dólar, então é bem possível que em um primeiro momento, haja algum impacto em comercializações. “Até porque outras nações ainda usam o dólar como referência para as negociações, mas eu acredito que num espaço de médio prazo, isso não será mais um problema. Existe já uma conversa sobre uma desdolarização do país e de outras nações também, então eu acredito que nos beneficiaremos nesse aspecto”.

Ela finaliza com uma visão otimista em relação ao mercado agro brasileiro, considerando esses outros acordos que são estabelecidos entre o governo brasileiro e outras nações. “Como por exemplo, com a China, que é um parceiro muito forte e tem feito vários investimentos em diversos setores no Brasil, principalmente no agronegócio. Além disso, somo uma nação com destaque para esses produtos, por conta da pressão que existe para produtos com o selo de sustentabilidade. Ou seja, as ações aplicadas a práticas conservacionistas de solo, a sistemas de produção integrado como integração, lavoura, pecuária e floresta, são ferramentas que nós já utilizamos, e que nos dá uma certa vantagem em frente a outros mercados”.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *