Evento jurídico coloca mudanças climáticas no centro do debate nacional
- 6/ novembro / 2025
I Fórum Rubens Walter Machado de Seguros e Transportes discutiu impactos das catástrofes climáticas e os desafios para a proteção econômica e social no país
Por Tany Souza
O avanço das mudanças climáticas e seus impactos diretos na economia, na infraestrutura e na segurança das populações foi o eixo central das discussões do I Fórum Rubens Walter Machado de Seguros e Transportes, realizado ontem (05), em São Paulo. O encontro reuniu lideranças do mercado segurador e do Judiciário para debater como o setor deve se posicionar diante de eventos extremos cada vez mais recorrentes.
O advogado Paulo Cremoneze, sócio do Machado e Cremoneze Advogados, destacou que o debate sobre mudanças climáticas no seguro deixou de ser futuro e passou a ser realidade operacional. “Participei anos atrás de um fórum em que Tony Blair alertava que as mudanças climáticas tornariam o seguro um negócio temeroso. Depois das tragédias de Mariana (2015), Brumadinho (2019) e, mais recentemente, no Rio Grande do Sul, isso deixou de ser hipótese. O mercado respondeu rápido e a reconstrução avançou, mas ainda temos desafios importantes, como transparência nas cláusulas e o combate às fraudes”, afirmou Cremoneze.
O setor ainda precisa evoluir na educação do consumidor e na construção de cultura de prevenção, segundo o advogado Ricardo Villar. “A surpresa é sempre ruim para o segurado. Se ele acredita que está protegido e descobre, no momento da crise, que não tem cobertura, perde-se a confiança. Ao mesmo tempo, temos fraudes que afetam o equilíbrio do sistema. Precisamos avançar em regras claras, fiscalização e, talvez, pensar em seguros obrigatórios para catástrofes, porque o impacto é nacional, não apenas local.”
O juiz federal Frederico Messias reforçou o valor social do seguro em um mundo de riscos crescentes. “A humanidade só chegou onde está porque estruturou mecanismos coletivos de proteção. Com eventos climáticos se tornando mais frequentes, o risco deixa de ser exceção. Soluções como fundos de catástrofes, resseguros e seguros paramétricos são caminhos. Mas também precisamos incentivar comportamentos de mitigação, como nos seguros verdes, que estimulam boas práticas.”
Já o desembargador Fernando Akaoui destacou que a proteção ao meio ambiente é um direito constitucional e um tema de saúde pública. “O meio ambiente é essencial à vida, e isso está previsto na Constituição. A deterioração ambiental potencializa doenças e atinge a sociedade como um todo. O mercado segurador tem não só interesse econômico, mas responsabilidade social direta na agenda climática.”
Com debates técnicos e visão estratégica, o fórum reforçou uma mensagem comum entre os participantes: as mudanças climáticas não são mais um cenário possível — são o contexto no qual o setor de seguros já opera. O desafio agora é responder com transparência, prevenção e inovação.
O evento marcou os 55 anos de atuação do Machado e Cremoneze Advogados, homenageando seu fundador, Rubens Walter Machado, referência no Direito Marítimo brasileiro.