GAFFFF ressalta a importância do Brasil no agro mundial
- 9/ junho / 2025
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Nos dois dias de eventos, palestrantes e políticos debateram perspectivas e desafios da agropecuária
Por Tany Souza
O evento Global Agribusiness Festival 2025 aconteceu nos dias 05 e 06 de junho, Allianz Parque, em São Paulo, e somou 35 mil pessoas, 186 expositores, 70 startups e 120 produtores artesanais. Foram mais de 40 palestras simultâneas, com políticos, especialistas e executivos, que trouxeram as perspectivas e desafios da agropecuária, em meio às crises climáticas e questões geopolíticas.
Em um painel moderado por Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e Pecuária, Guilherme Scheffer, Marcus Thieme e Ricardo Faria discutiram a posição de referência do produtor brasileiro no mundo e as oportunidades e desafios do agronegócio nacional frente às novas pautas globais, com foco em sustentabilidade e valor agregado.
Para os especialistas, o Brasil ainda é altamente competitivo, mas é necessário reafirmar o potencial do agronegócio brasileiro como um dos principais agentes em prol da produção sustentável para o exterior. Com a crescente demanda por produtos sustentáveis, o setor precisa continuar inovando e se adaptando para manter sua posição de destaque no mercado global.
O papel do agro, os desafios e oportunidades também foi um dos temas, que contou com a participação dos executivos Aurélio Pavinatto, diretor presidente da SLC Agrícola; e Marcelo Ribeiro, CEO do Grupo Tamburi. Com as mudanças regulatórias, ambientais e tecnológicas, saber com o setor se posiciona é de suma importância.
Alejandro Padrón, estrategista de Commodities da XP Inc., e Rafaela Guerrante Moreira, coordenadora-geral do RenovaBio e de Políticas de Descarbonização do MME, reuniram-se com outros especialistas do setor para analisar a expansão do mercado de biocombustíveis.
Foi ressaltado o papel do Brasil como produtor de 25% do etanol mundial e o potencial de crescimento do mercado, especialmente com o aumento da demanda por E30 e etanol hidratado, que pode chegar a 20 bilhões de litros por ano na próxima década.
O painel abordou também a transformação estrutural da matriz energética brasileira, que já é bastante limpa, mas enfrenta desafios para avançar ainda mais. A entrada de novos países produtores de cana foi mencionada, destacando a cana como fonte de energia e alimento, especialmente importante para regiões com insegurança alimentar. Novas tecnologias tornam os biocombustíveis cada vez mais competitivos.
Nessa mesma linha temática, a geopolítica e a segurança alimentar foram debatidos diante da instabilidade climática, guerras comerciais, incertezas regulatórias e a necessidade de políticas internas mais consistentes para garantir a competitividade do setor. Segundo Nancy Martinez, da National Corn Growers Association (NCGA), há muitos entraves regulatórios que impedem produtores acessem sementes mais resistentes. “A adoção global da biotecnologia é essencial para garantir segurança alimentar e sustentabilidade”.
No painel sob o tema “O Papel da Tecnologia Agrícola na Economia Rural”, o presidente da Datagro, Plinio Nastari, recebeu a vice-presidente de assuntos públicos na Corteva, Shona Sabnis, que discursou sobre a transformação positiva do Cerrado brasileiro, a atuação exemplar dos produtores nacionais e o papel fundamental da agricultura brasileira como agente mobilizador socioeconômico e ambiental.
O transporte de cargas não poderia ser um tema fora do evento. Na palestra “Novas Rotas e Infra Estrutura”, conduzida por Gabriel Fonseca, gerente geral comercial na VLI Logística, Anderson Pomini, presidente do Porto de Santos, e Fernando Quintas, presidente da CS Infra, debateram o assuntos e destacaram que a cadeia logística é responsável por cerca de 30% do custo do agronegócio. Já Anderson Pomini enfatizou que um quarto de todas as exportações brasileiras passa pelo Porto de Santos. “Em 2024 o Porto bateu recorde com aproximadamente 180 milhões de toneladas movimentadas, equivalente a mais de 16 mil caminhões por dia”.
O tema “Novos Desafios do Comércio Global” continuou em destaque com a participação de Aldo Rebelo, Secretário Municipal de Relações Internacionais de São Paulo; Christian Lohbauer, Professor, Cientista Político e Conselheiro da ABAG, COSAG/FIES; Marco Ripoli, PhD, Diretor e Consultor Associado, da PH Advisory Group; e Sueme Mori Andrade, Diretora de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Os participantes discutiram o reposicionamento do Brasil em um cenário de desglobalização e instabilidade, marcado por crescentes inseguranças alimentares e energéticas, e também como um parceiro confiável para garantir a segurança alimentar global.
Gro Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e autora do “Relatório Brundtland”, publicado em 1987, lançou um alerta urgente: a produção, embalagem e distribuição de alimentos são responsáveis por 30% das emissões globais de gases de efeito estufa. Ela enfatizou a necessidade de investimentos em países de baixa e média renda, transparência e responsabilidade governamental.
Brundtland destacou o papel crucial do Brasil na liderança do movimento sustentável em escala internacional, especialmente em energia renovável, para alcançar a meta de net zero até 2030. Ela também ressaltou a importância de planos de ação eficazes e comunicação correta para enfrentar as ameaças ambientais e socioeconômicas globais.
A COP30 foi um assunto presente no evento. Para o deputado Arnaldo Jardim, é preciso o unir preservação e sustentabilidade econômica. “O Brasil está se preparando para a COP 30, mas ainda precisa se consolidar na regulamentação do mercado de carbono e na articulação mais estruturada com outros países detentores de florestas tropicais, como Congo e Indonésia, para buscar mecanismos de apoio à preservação”.
Renato Folino, sócio e head de Wealth Planning e Family Office na XP Private Banking, e mais dois profissionais da advocacia discutiram as particularidades do processo de planejamento patrimonial e sucessório visando a preservação do legado e a perenidade do negócio familiar.
Os palestrantes reforçaram a importância do diálogo, da transparência e de um plano claro de governança familiar e corporativa para evitar conflitos, que são comuns nesses casos. Mas é preciso entender que cada empresa familiar tem um perfil: em alguns casos, processos de fusão e aquisição podem viabilizar uma solução em termos de planejamento sucessório de uma família.
O painel “Mulheres na Gestão: Estratégias de Sucesso na Administração e Operação dos Negócios”, trouxe Camila Mourad, Lúcia Bortolozzo, Simoni Tessaro Niehues e Marisa Contreras para discutir a presença e os desafios das mulheres na gestão do agronegócio. Embora quase um quinto das propriedades rurais no Brasil sejam lideradas por mulheres, nenhuma das cem maiores empresas do agro tem uma mulher no comando — um retrato da disparidade que motivou o surgimento de programas de fortalecimento da liderança feminina.
Além dos obstáculos estruturais, as palestrantes abordaram os desafios invisíveis enfrentados pelas mulheres, como a autossabotagem, a falta de representatividade e a necessidade constante de provar competência em ambientes tradicionalmente masculinos. Histórias pessoais de superação revelaram que a rede de apoio — entre mulheres e com aliados homens — tem sido decisiva para quebrar barreiras. As palestrantes deixaram uma mensagem clara de que a liderança feminina no agro não apenas é possível, como já é uma realidade em transformação. Mas, para que ela se amplie, é necessário continuar incentivando novas lideranças, construindo espaços mais inclusivos e valorizando a diversidade como motor de desenvolvimento no campo.