19 de February de 2025
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Especial de seguros: mudanças climáticas é um dos temas em foco

  • 29/ outubro / 2024
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A adaptação do setor de seguros às mudanças climáticas reestrutura o cálculo de riscos e eleva o custo das apólices

Por Tany Souza

O aumento dos desastres climáticos preocupa o setor de seguros, que busca novas soluções para mitigar riscos e adaptar coberturas. Segundo a Munich Re, as catástrofes naturais causaram perdas globais de US$ 120 bilhões apenas na primeira metade de 2024, das quais 68% se originaram de eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais. No mesmo período, as perdas seguradas chegaram a US$ 62 bilhões, acima da média histórica de US$ 37 bilhões nos últimos dez anos, com o Brasil representando 1,5% deste valor.

O Rio Grande do Sul foi um dos estados mais impactados, registrando cerca de R$ 5,8 bilhões em perdas seguradas até julho, com projeções de chegar a R$ 10 bilhões, embora apenas 8-10% das perdas totais estejam cobertas por seguros. Em resposta à crescente frequência e intensidade desses eventos, a Swiss Re e a Guy Carpenter estão adaptando suas práticas: a Swiss Re enfatiza a necessidade de modelos de avaliação mais detalhados para identificar novos tipos de exposição ao risco, como deslizamentos, enquanto a Guy Carpenter lançou uma ferramenta de modelagem de risco climático extremo, que já está sendo utilizada por dez seguradoras para calcular impactos no Brasil.

Além dos desafios climáticos, as seguradoras enfrentam pressões para integrar práticas de sustentabilidade, como exige a Norma de Sustentabilidade e Riscos ESG da Susep, aplicada a empresas brasileiras do setor. A Mapfre, que tem intensificado investimentos em tecnologias verdes, afirma que esses fatores aumentam o custo das apólices, especialmente em regiões como América Latina e Caribe, onde as taxas de seguro patrimonial subiram 2% no segundo trimestre de 2024.

Apesar de algumas regiões do mundo, como Flórida e Califórnia, enfrentarem restrições na oferta de seguros e resseguros em resposta aos eventos climáticos severos, o mercado brasileiro ainda não sofre dessas limitações. O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Dyogo Oliveira, aponta que o Brasil mantém uma capacidade funcional para assumir riscos, mesmo diante de catástrofes, como as enchentes de maio no Rio Grande do Sul. Esse evento específico gerou R$ 5,8 bilhões em perdas seguradas e pode atingir R$ 10 bilhões. No total, foram feitos cerca de 60 mil pedidos de indenização, com impacto distribuído em seguros automotivo, empresarial, residencial, rural e de infraestrutura.

Segundo Oliveira, a perda total dessa catástrofe no Rio Grande do Sul pode alcançar R$ 100 bilhões, enquanto o valor segurado é estimado em R$ 6 bilhões. Ele ressalta, no entanto, que, embora o mercado de seguros brasileiro seja robusto, há preocupação com a fragilidade da infraestrutura urbana e a baixa cobertura de seguros no país. No Brasil, apenas 15% dos imóveis, 10% das pequenas empresas, 11% das pessoas (em termos de seguro de vida) e 10% do setor rural têm cobertura de seguro, enquanto a frequência dos eventos climáticos extremos continua crescendo.

Movimentação das resseguradoras

O aumento do aquecimento global está intensificando a ocorrência de catástrofes climáticas, elevando a demanda por seguros que cobrem danos relacionados a esses eventos. Para atender a esse crescimento, seguradoras têm recorrido cada vez mais às resseguradoras, como o IRB(Re), que lidera o setor no Brasil com 17% do mercado e R$ 6,5 bilhões em prêmios vendidos em 2023. Ainda que não exista um seguro específico para “mudanças climáticas,” a demanda por apólices que cobrem eventos naturais está crescendo, especialmente em segmentos como seguros residenciais contra enchentes, vendavais e desmoronamentos, que registraram um aumento de 32% em pagamentos no início de 2024.

A CNseg estima que as perdas seguradas no Rio Grande do Sul, onde enchentes severas causaram grandes danos em 2024, podem chegar a R$ 8 bilhões. A Lockton Re Brasil também observou um crescimento significativo de sinistros, saltando de 17 eventos climáticos extremos em 2022-2023 para 126 em 2023-2024. Especialistas alertam que a elevação das catástrofes naturais tornará os seguros mais caros e poderá incluir mais cláusulas de exclusão. Além disso, iniciativas como o projeto “Construindo Seguros para a Transição Climática”, da CNseg, buscam desenvolver soluções para a adaptação climática no Brasil, incluindo a proposta do Seguro Social Catástrofe para atender populações de baixa renda em emergências.

Letra de Riscos de Seguros (LRS)

Um novo instrumento financeiro para lidar com riscos catastróficos chamado LRS (Letra de Risco de Seguro), regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) neste ano, aguarda aval da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para autorizar as sociedades seguradoras de propósito específico (SSPE) interessadas em atuar no Brasil. “A expectativa é que algumas sejam autorizadas em breve”, diz o diretor da Susep, Carlos Queiroz, sem revelar quais. Dois nomes, entretanto, são dados como certos: Andrina Seguros, ligada ao IRB (Re), e uma vinculada ao fundo Galapagos Capital.

O objetivo da LRS é remunerar o investidor por meio de retornos atrelados a fatores de risco de seguro, parametrizados e facilmente identificáveis, como enchentes, ventanias, granizo e catástrofes climáticas em uma região pré-definida.

Fonte: Valor Econômico – Caderno Especial Seguros

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