9 de July de 2025
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Da Rio-92 à COP30: Brasil impulsiona diálogo internacional por governança ambiental integrada

  • 18/ junho / 2025
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Ação sistêmica, reconhecendo sinergias entre convenções ambientais, foi foco de evento promovido pela presidência brasileira da COP30. Em reunião preparatória em Bonn, na Alemanha, o Brasil coordena esforços para revigorar o multilateralismo na pauta do clima

Por COP30.br

No escopo de agendas da 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (SB62), na cidade alemã de Bonn, a presidência brasileira da COP30 coordenou uma mesa especial sobre sinergias entre as três convenções do Rio e a Conferência de novembro. O resultado das discussões apontou a um sinal claro: a ação climática precisa, com celeridade, tornar-se mais sistêmica. De forma isolada, os objetivos não serão alcançados.

Reuniões ocorrem no World Conference Center – Foto: Rafa Neddermeyer / COP30 Brasil

Neste ano, pela primeira vez, o evento mais importante do calendário do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) acontece no Brasil. Porém, não é inédito o protagonismo brasileiro perante esta temática. Há 32 anos, no Rio de Janeiro (RJ), já acontecia a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), a qual também ficou conhecida como Rio-92. O encontro é considerado um marco na história dos compromissos internacionais na pauta ambiental e consolidou dois eventos de continuidade, a Rio+10 (Joanesburgo, África do Sul, 2002) e Rio+20 (Rio de Janeiro, Brasil, 2012).

Na reunião na antiga capital ocidental da Alemanha, que é preparatória para a Conferência em Belém, capital do Pará, Ana Toni, CEO da COP30, dirigiu a atividade que se deu com base na compreensão de que tal sinergia é fundamental para enfrentar os desafios ambientais globais de forma integrada, especialmente no contexto das florestas e da crise climática. A diplomacia brasileira, a partir da tradição de cordialidade, diálogo e cooperação, busca fortalecer as estruturas multilaterais a fim de construir roteiros para superação da atual fragmentação da governança ambiental internacional.

“A volta ao Brasil na COP30 não é apenas simbólica. Ela é um poderoso lembrete das bases comuns que deram origem às três convenções do Rio. Essa base compartilhada nos impulsiona a agir com mais coerência, eficiência e urgência nas agendas de clima, biodiversidade e uso da terra”, destacou o Dr. Osama Faqeeha, vice-ministro do Meio Ambiente no Ministério do Meio Ambiente, Água e Agricultura da Arabia Saudita e conselheiro da Presidência da COP16 de Riade, que aconteceu no último ano.

As contribuições, tanto dos especialistas das agências da ONU, quanto dos países representados à mesa, estiveram coordenadas no sentido de que fortalecer a integração entre as agendas ambientais — clima, oceanos, terra e biodiversidade — é, além de uma urgência social, um fator capaz de maximizar resultados a partir dos mesmos investimentos. Demais destaques estiveram na valorização de estratégias baseadas na natureza e abordagens ecossistêmicas e na necessidade de um maior envolvimento do setor privado na busca por soluções, uma vez que este é responsável por uma fatia considerável do uso de recursos naturais da terra. 

“Filhos da Rio-92”

Os compromissos assumidos na Rio-92 não foram fundamentais apenas para criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que estabeleceu as bases para a cooperação internacional no enfrentamento à crise climática e hoje lidera o evento em Bonn. O encontro em terras cariocas também pavimentou os caminhos para fundação da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CBD) e a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), as quais estiveram representadas no debate.

“De fato precisamos abordar todas essas questões de forma holística, dentro de todo o marco, com atenção às comunidades e povos específicos. Precisamos considerar os vários setores, reconhecendo que o tema não se limita aos pequenos escritórios dos ministérios do Meio Ambiente, mas deve envolver todo o governo e toda a sociedade”, colocou Tristan Tyrell, do secretariado da CBD.

Birguy Diallo, chefe de Política Global, Incidência e Cooperação Regional da UNCCD, salientou que não há tempo de esperar por uma arquitetura institucional perfeita nos níveis internacional ou local para agir. “Muitas vezes vemos a terra como um espaço de competição — por recursos, por atenção política, por controle institucional. No entanto, podemos usá-la como um elo de ligação para realmente construir essas sinergias”, conclui ela.

Bonn 2025

O SB62 acontece até o dia 26 de junho, composta pelo SBSTA (assessoria científica e tecnológica) e pelo SBI (responsável pela implementação de acordos). O encontro em Bonn é anual, onde estão sediadas 18 agências das Nações Unidas, entre elas o secretariado da UNFCCC.