Crédito agrícola e sustentabilidade: os desafios e oportunidades para 2025
- 11/ fevereiro / 2025
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Tecnologia, gestão eficiente e práticas sustentáveis serão diferenciais para acessar financiamento e impulsionar o setor
Por Tany Souza
O ano de 2024 foi desafiador para os produtores rurais em muitos sentidos. Desde a questão econômica, com a alta da Selic, juros altos e aumento dos pedidos de recuperação judicial, além das questões climáticas que impactaram diretamente a produção. Não foi à toa que o PIB do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), seguiu em queda no segundo trimestre, com baixa de 1,28%, acumulando retração de 3,5% no ano passado. Para 2025, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima um crescimento de 5%.
Segundo Victor Cardoso, Head Comercial da fintech Agree, deve acontecer um avanço significativo na individualização do crédito agrícola, impulsionado pela tecnologia. “Ferramentas como inteligência artificial e análise de dados devem permitir que as instituições financeiras ofereçam condições mais adaptadas à realidade de cada produtor. Além disso, a sustentabilidade será uma prioridade, com maior número de linhas condicionadas ao cumprimento de critérios sustentáveis. Quem não se adequar às regras pode ter o seu financiamento suspenso também. Outro ponto relevante será a influência de políticas governamentais, que podem alterar os subsídios e as condições de financiamento”, explica.
Para Elaine Teixeira, zootecnista e especialista em sustentabilidade agrícola, essa é uma tendência, um avanço positivo. “Pois isso possibilita que os produtores tenham acesso a condições de financiamento que são ajustadas à sua realidade e aí considera-se os riscos específicos para cada propriedade. O mercado adotando essa tecnologia, a tendência é que ela se intensifique, ou seja, práticas regenerativas, preservação de reservas legais, a redução da pegada de carbono, são cada vez mais exigidos, inclusive para a contratação de seguros. Então, quem não se adequar para essa situação pode enfrentar dificuldades no futuro para acessar financiamentos. Você tendo dificuldade de acesso a financiamentos pode aumentar a vulnerabilidade no caso, por exemplo, de adversidades climáticas”.
A volatilidade econômica sempre traz desafios, principalmente em relação à previsibilidade do custo do empréstimo e do câmbio. Segundo a avaliação da CNA, a política monetária preocupa devido às expectativas inflacionárias, com a esperada manutenção da taxa Selic em patamar elevado (existe a projeção de 13,50% ao final do próximo ano). “Um cenário de juros altos pode limitar o acesso ao financiamento, sobretudo para pequenos e médios produtores. Entretanto, os mais estruturados tendem a buscar linhas alternativas para alongamento das dívidas e investimentos mais robustos, como linhas do mercado de capitais”, analisa Cardoso.
O câmbio também é um dos fatores macroeconômicos mais relevantes para o agronegócio, influenciando tanto os custos quanto a receita das operações. Ele afeta a competitividade do Brasil em relação ao mercado externo, impacta os preços dos insumos e, também, as despesas de trabalhadores do campo que optam por captações em moeda estrangeira.
O produtor ideal é aquele que alia boa gestão financeira a práticas sustentáveis. Bancos e instituições estão valorizando a transparência e a adoção de tecnologias que promovam a eficiência produtiva e a preservação ambiental. Além disso, aqueles com histórico positivo junto aos bancos, incluindo capacidade de endividamento bem dimensionada, estarão em vantagem.
Para Cardoso, a principal recomendação é organização. “Ter uma gestão clara, com documentos atualizados e bem catalogados, facilita o acesso ao empréstimo. Além disso, é importante buscar diversificação de receitas e estar atento às exigências ecológicas, que se tornarão ainda mais relevantes. Produtores que investirem em tecnologias para aumentar a eficiência e reduzir o impacto ambiental estarão, com certeza, melhor posicionados”, destaca.
Wyviane Rodrigues, a Sócia-diretora da Corretora WR Seguros Rurais, destaca que tudo no agro tem sido desafiador. “Além do aumento de critérios para se adequar a novas realidades, como Meio ambiente, Receita Federal e Ministério do Trabalho, dificuldade em contratar devido ao aumento de pessoas em projetos sociais, ainda tem o risco climático, pois trata-se de uma empresa sem teto e sem parede. Cada vez mais o produtor tem que considerar o seguro como uma ferramenta importante para evitar maiores prejuízos: clima, roubos, vendavais, incêndios, acidentes, mortalidade de gado, tudo tem o seguro certo para contratar”.
Elaine Teixeira acredita que o ano de 2025 já é um ano cheio de oportunidades. “Por mais que ele seja desafiador, considerando as taxas mais altas do ano passado, essa oscilação de câmbio, apesar de desafiador, ele também é um ano cheio de oportunidades para aqueles que souberem se adaptar a essa nova realidade, com os créditos sendo direcionados para projetos mais seletivos e baseados em práticas sustentáveis, isso é uma ferramenta estratégica para a gente ter proteção ao setor e abertura para esses novos mercados e novas linhas de crédito”.
Crédito sustentável
A sustentabilidade deixou de ser uma tendência e tornou-se indispensável no setor. As regulações ambientais agora direcionam os critérios de concessão de financiamento, tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Nesse contexto, o agronegócio brasileiro destaca-se por sua crescente adesão a práticas sustentáveis. “Linhas específicas para práticas regenerativas, redução de emissões de carbono e aumento da biodiversidade terão maior destaque”, afirma Victor Cardoso.
Ainda de acordo com ele, instituições que consigam entender o momento que cada agricultor está passando, de forma individual, e dar conforto nas suas renovações de custeio ou alongamento das dívidas com taxas atrativas, estarão à frente. “O crédito agrícola está em constante transformação e 2025 será um ano de desafios e oportunidades. Os profissionais que estiverem abertos a inovações, alinhados às exigências de mercado e bem organizados terão uma posição estratégica para crescer. A tecnologia será a grande aliada nesse processo, conectando o trabalhador do campo e instituições financeiras de maneira mais eficiente”, comenta Cardoso.
Essa bandeira de sustentabilidade é indispensável para o setor agropecuário, segundo Elaine Teixeira. “Então as regulações ambientais direcionarão a concessão ou não de financiamentos, tanto no cenário brasileiro quanto no cenário internacional. Nesse aspecto o agronegócio brasileiro se destaca porque já tem uma crescente adesão dessas práticas sustentáveis, por isso, as linhas de crédito que irão beneficiar ou bonificar ou ter uma redução de juros mais interessante para práticas regenerativas, redução de gás de estufa etc”, finaliza a especialista.