Corte da subvenção governamental alerta sobre o futuro da produção agrícola do país
- 20/ junho / 2025
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Especialistas falam de sua expectativa para o setor
Por Tany Souza
Sem aviso prévio ou indícios de que isso aconteceria, o Ministério da Agricultura (MAPA) bloqueou R$ 445 milhões do orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) para 2025. Isso significa menos 42% da verba destinada inicialmente, que foi de R$ 1,06 bilhão e foi dividido entre um bloqueio de R$ 354,6 milhões e um contingenciamento de R$ 90,5 milhões.
Essa ação faz parte do pacote da contenção de gastos do governo, com a intenção de equilibrar as despesas, o que já aconteceu em outros Ministérios. Porém, a questão que chama atenção é que não houve comunicado oficial, justificativa estratégica, conversa do setor, a notícia teve um efeito devastador, surpreendendo a todos de forma inesperada e contundente.
“As seguradoras com orçamento, com previsão de cobrir áreas por hectare, para dar seguridade. Revendas, instituições financeiras, cooperativas de crédito, já estruturando, trabalhando. As operações de crédito com seguro agrícola, menos sabendo que a subvenção é nada certeiro, mas existia uma chance de haver a subvenção. E agora com esse corte de 42% no orçamento disponível, praticamente dará um gargalo muito grande para todos os pilares do agro, desmontando todos os pilares de segurança produtiva”, comenta Luciano Pioli, Especialista em Soluções Agrícolas, na Almanza Corretora de Seguros.
Para Elisa Rodrigues, Consultora e Especialista em Agronegócios, se for mantido o bloqueio, a projeção será bem menor do que o ano passado, abaixo de R$ 5 milhões em 2025 de hectares contratados de seguro rural. “As seguradoras já tinham solicitado ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento um orçamento adicional para colocar para o próximo ano. Mas agora, todos estão preocupados. Esperamos que o governo mude de opinião e reveja essa condição, porque muitos produtores rurais, inclusive alguns que estou negociando a lavoura, precisam dessa ajuda, dessa subvenção”.
Isso aconteceu em um momento em que o setor aguarda ansiosamente a liberação de recursos para o Plano Safra 25/26. “Essa ação sabota o próprio Plano Safra do Governo, antes mesmo de ser anunciado, já que o seguro agrícola protege o produtor de eventos climáticos extremos, e o crédito, para quem fomenta o crédito. A pergunta que fica no ar é: estamos diante de uma incompetência técnica ou uma miopia política?”, adiciona Pioli.
Agora há algumas consequências que já podem ser mensuradas, segundo comenta Elisa Rodrigues. “O ponto principal é termos algum impacto direto no custo do seguro para o produtor. Além de, claro, aumento da vulnerabilidade do setor agrícola, porque sem seguro, os produtores ficam mais expostos a eventos climáticos extremos como as secas, enchentes e geadas”.
Luciano Pioli reforça que os efeitos deste corte no PSR. “A subvenção é um instrumento de gestão de risco estruturado. Sem ele não há crédito sustentável, sem crédito não há a produção escalável, sem produção não há PIB no agro, fica vulnerável, não há superávit, não há segurança alimentar, isso não afeta somente o produtor rural, afeta várias outras áreas. Atingi bancos, seguradoras, resseguradoras, cooperativas, agroindústrias, trades, enfim, e na ponta do negócio está o produtor brasileiro, o consumidor, porque se mais áreas estão sem proteção com seguro frente às intempéries, se há uma oscilação de clima, colhe-se menos, vende-se menos, há menos alimento na mesa”.
A pergunta ainda mais estarrecedora é: o que será do agronegócio, sem a subvenção do governo para o seguro rural?