11 de November de 2025
Exclusivo

Corretores de Seguros ainda são minoria no campo brasileiro

  • 29/ setembro / 2025

A baixa participação no seguro rural revela entraves estruturais, produtos complexos e a necessidade de capacitação e parcerias para ampliar a distribuição no agronegócio

Por Tany Souza

Durante a 25ª edição do Congresso dos Corretores de Seguros (CONEC), realizada entre os dias 25 e 27 de setembro, em São Paulo, o presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg, Glaucio Toyama, concedeu entrevista exclusiva ao portal Seguro Rural Brasil e destacou os desafios estruturais para ampliar a participação de corretores de seguros no mercado, além do papel das cooperativas e da consciência crescente dos agricultores sobre a importância da proteção.

Ao ser questionado sobre a baixa participação de corretores no segmento de seguro rural, Toyama apontou duas razões principais: a complexidade do setor e a falta de produtos simples. “As complicações que temos no mercado de agro acabam afastando os corretores. Esse negócio é visto como complicado, cheio de incertezas — se tem crédito, se tem subvenção. O corretor prefere vender automóvel, vida, o trivial. Ele olha e pensa: quando isso estiver funcionando, eu entro”, explicou.

Segundo ele, o problema se agrava porque as seguradoras não desenharam produtos de fácil entendimento. “As companhias deixaram os produtos complexos demais. Precisamos revisitar o processo de distribuição e oferecer soluções mais simples, não só para o corretor, mas também para o produtor. O produtor entende muito de sua realidade, mas muitas vezes o corretor não consegue dialogar tecnicamente, e isso cria barreiras”, avaliou.

Para Toyama, a baixa quantidade de corretores atuando em ramos como pecuária, florestal e agrícola não encontra justificativa plausível. “Não justifica termos apenas 20 corretores em pecuária ou 200 em agrícola. Já deveríamos ter avançado muito mais. Hoje, 60% do seguro agrícola brasileiro é distribuído via canal atrelado a crédito e apenas 40% por corretores independentes. Isso limita o crescimento”, afirmou.

Questionado sobre o papel das cooperativas, Toyama destacou que elas já têm atuação consolidada na distribuição de seguros, mas vê limites para que se tornem como seguradoras. “As cooperativas já vendem seguros e estão bem posicionadas em todo o país. Mas se tornar seguradora é outro passo, que exige solvência, estrutura técnica e atuação nacional, e a maioria delas é regionalizada. Acredito mais em parcerias de cosseguro, que fortalecem a distribuição e criam um portfólio mais adequado”, explicou.

Segundo ele, a entrada das cooperativas no risco tende a ser positiva para o mercado. “Quando a cooperativa participa do risco, ela será mais seletiva e cuidadosa na montagem do portfólio. Isso pode gerar mais qualidade e, no longo prazo, até oportunidades para corretores que ofereçam serviços diferenciados”, disse.

Conscientização do produtor e entraves financeiros

Na avaliação de Toyama, os produtores rurais já têm consciência da importância do seguro, mas enfrentam dificuldades financeiras para contratá-lo. “O produtor sabe que o seguro é fundamental, especialmente em regiões de maior volatilidade climática. Mas, muitas vezes, ele não tem caixa nem para comprar sementes ou fertilizantes. Entre plantar e segurar, ele precisa plantar. Essa falta de margem limita a penetração do seguro”, destacou.

Ele também lembrou que a maior concentração das apólices está em cultivos de grãos. “Hoje, 65% da venda de seguros agrícolas está em soja, milho e trigo, porque são cadeias grandes e relevantes. Mas isso não significa que outros cultivos não precisem, e sim que a oferta se direciona para onde há maior volume”, explicou.

Toyama encerrou destacando que a falta de proteção impacta diretamente a continuidade das famílias no campo. “Estamos vendo perdas patrimoniais violentas, principalmente no Rio Grande do Sul. Muitos jovens não querem mais ficar na fazenda. O seguro não resolve tudo, mas poderia mitigar parte desses impactos e dar fôlego para que o produtor continue. O desafio agora é equilibrar inovação, simplicidade de produtos e capacidade de compra”, concluiu.