16 de November de 2025
Radar

COP30 – CNseg alerta para queda na área segurada do seguro rural e lança novas ferramentas climáticas

  • 15/ novembro / 2025

Em palestra na AgriZone, entidade reforça urgência de ampliar a proteção ao produtor diante do avanço dos eventos extremos

Por Tany Souza

A discussão sobre bioinsumos abriu espaço para um tema decisivo no agronegócio brasileiro: o seguro rural. Durante a AgriZone, em um painel que contou com a presença do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, ressaltou que o país vive um momento crítico na proteção das lavouras e precisa recuperar protagonismo.

Oliveira lembrou que o Brasil já chegou a ter 16% da área plantada segurada com apoio do governo, mas esse percentual vem despencando: 6% no ano passado e menos de 3% em 2025. “É um cenário preocupante porque estamos falando de um setor que carrega a economia brasileira. O agro desenvolve tecnologia, inovação financeira, gestão e logística. É um setor que movimenta o país inteiro, mas convive com um risco climático gigantesco”, afirmou.

Ele criticou o modelo atual de financiamento das perdas, baseado majoritariamente no orçamento público. “Quando o clima destrói uma produção, o governo cobre a conta. Só que o governo não tem dinheiro próprio. Ele tira esse recurso de toda a população. É um mecanismo injusto e ineficiente. O seguro é a forma justa: os riscos ficam com o grupo adequado, e a indenização chega a quem realmente precisa.”

Para enfrentar esse desequilíbrio, a CNseg anunciou três novos instrumentos que serão lançados ainda durante o evento. O primeiro deles é o Radar de Eventos Climáticos, sistema que reúne e quantifica todos os eventos registrados no país — intensidade, impacto por região e por produto. Segundo Oliveira, o levantamento identificou 4.500 eventos climáticos, dos quais 67 de magnitude elevada. Entre os extremos mais severos, a entidade mapeou 185 ocorrências, que juntas somaram R$ 5,5 bilhões em prejuízos, número que ainda exclui outros efeitos climáticos indiretos. “Temos hoje um nível de proteção de mais de 85%, ou seja, menos de 15% desse valor foi indenizado. Isso mostra o tamanho do desafio.”

A CNseg apresentará também uma ferramenta de avaliação de risco de enchentes, que será ampliada futuramente para outros perigos, como seca e vendaval. O objetivo é que qualquer produtor possa acessar o site, inserir seu endereço e visualizar o risco climático da área de produção.

A entidade reforçou que ampliar o seguro rural não é apenas uma questão financeira, mas estratégica para a soberania agroeconômica do país. A organização quer que o setor segurador assuma papel central nesse avanço, garantindo previsibilidade, justiça e resiliência ao campo — pilares que se tornam cada vez mais urgentes em um Brasil atravessado por eventos extremos e por um agronegócio que segue como motor da economia.

Esse debate abre caminho para entender o seguro não como custo, mas como infraestrutura essencial da produção agrícola, especialmente em um país onde a mudança climática já deixou de ser aleatória para se tornar determinante.