11 de November de 2025
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A profissionalização do produtor rural: um passo essencial para garantir crédito, competitividade e sustentabilidade

  • 27/ outubro / 2025

Gestão eficiente, governança e organização financeira são hoje fatores decisivos para o produtor rural se manter competitivo e ampliar seu acesso a crédito e seguros

Por Wyviane Rodrigues*

O campo brasileiro é um dos motores da economia nacional, mas ainda carrega um desafio estrutural: a falta de profissionalização na gestão das propriedades. Enxergar a atividade rural como uma empresa deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade estratégica para quem quer se manter competitivo, ter acesso a crédito e se adequar às novas exigências de sustentabilidade.

O tema da profissionalização do produtor rural ganha força diante de um cenário em que o ESG (Ambiental, Social e Governança) se torna critério decisivo para o mercado financeiro. Se, até pouco tempo, o “E” era o mais cobrado — especialmente por conta de multas e penalizações ambientais —, agora o “G”, de governança, tem recebido atenção crescente de bancos e seguradoras. Desde a vigência da Resolução 4.966 do Banco Central, as instituições financeiras passaram a exigir maior transparência administrativa, contábil e fiscal para liberar crédito e definir taxas de financiamento.

Muitos produtores ainda mantêm uma relação pontual com a contabilidade, limitando-se a visitar o contador duas vezes ao ano — para o Imposto de Renda (IR)e o Imposto Territorial Rural (ITR). Essa prática, porém, gera riscos e custos desnecessários: ajustes tributários e documentais podem ser evitados com um acompanhamento mensal das obrigações fiscais, planejamento financeiro e gestão documental contínua.

Os números do setor reforçam essa necessidade de amadurecimento. O seguro rural arrecadou R$ 10,7 bilhões entre janeiro e setembro de 2024, segundo a CNseg, mas a queda de 2,7% em relação ao mesmo período do ano anterior mostra que ainda há baixa adesão entre pequenos e médios produtores. O Seguro Penhor Rural, por sua vez, somou R$ 1,6 bilhão no primeiro semestre de 2024, com R$ 477,6 milhões em indenizações — o que reforça que quem está protegido tem mais estabilidade financeira para reinvestir e crescer.

A profissionalização passa, portanto, por integrar três pilares: contabilidade, finanças e administração. Com gestão estruturada, o produtor ganha poder de negociação em empréstimos e financiamentos rurais, amplia sua previsibilidade de custos e constrói reputação perante o mercado. A contabilidade passa a ser ferramenta estratégica — e não apenas burocrática — para garantir credibilidade junto a bancos, seguradoras e investidores.

Em um cenário de mudanças climáticas, exigências regulatórias e margens de lucro cada vez mais apertadas, profissionalizar-se é também uma forma de proteção. Um produtor que administra sua fazenda com olhar empresarial tem mais condições de acessar linhas de crédito verdes, participar de programas de incentivo, contratar seguros mais completos e planejar o futuro com segurança.

O agronegócio brasileiro é forte, mas o produtor rural precisa se fortalecer como gestor. Profissionalizar a gestão é o caminho para transformar a produção em negócio — e o negócio em legado.

 

Wyviane Rodrigues é sócia-diretora da WR Seguros e Benefícios, especializada em seguros agrícolas, abrangendo lavouras, benfeitorias e maquinário agrícola. Com atuação destacada no Sudoeste de Minas e regiões próximas, possui vasta experiência no setor, tendo colaborado com empresas de grande porte, como a Bradesco Seguros. Formada em Processos Gerenciais e MBA em Gestão de Pessoas, contribui significativamente para o fortalecimento do mercado de seguros rurais.