A existência do seguro rural, apesar de…
- 25/ novembro / 2025
Dificuldades do setor não podem inibir a força e o poder de atuação no Brasil
Por Tany Souza*
Um dos pontos altos da COP30 foi o discurso do ex-ministro Roberto Rodrigues, quando exaltou sua fé em ver o seguro rural em pleno vapor, em um futuro no qual o país possa ser fornecedor de alimentos para o mundo, com transição energética justa, menos desigualdade social e melhor gestão das questões climáticas.
Hoje o agronegócio é responsável por 26% do PIB. Ou seja, um quarto da riqueza nacional está nas mãos de produtores e criadores. Segundo dados da CNseg, o seguro agrícola cresceu 265 vezes em 18 anos; Máquinas e implementos aumentaram 70% em 2023; Penhor Rural somou R$ 1,6 bilhão em prêmios no primeiro semestre de 2024; e o Seguro Pecuário se desenvolveu 1.100% em cinco anos (dados do Globo Rural).
O ápice da área agrícola segurada no país ocorreu em 2020, com 13,7 milhões de hectares. Esses números, porém, vêm diminuindo. Até julho, segundo dados da CNseg, a área segurada havia sido de apenas 2,2 milhões de hectares, o que equivale a 2,3% da área plantada no país. A queda é resultado direto da falta de recursos para a subvenção governamental.
Depois da fala de Roberto Rodrigues, fiquei refletindo sobre os motivos que o levam a manter esse olhar tão genuíno e esperançoso diante de tantos desafios — falta de subvenção, baixa cultura de seguro e escassez de especialistas no setor. Ainda assim, vejo que há muitos caminhos a serem desbravados.
Se tomarmos apenas a subvenção como exemplo — o ponto mais crítico —, fica evidente que basta um posicionamento político mais cuidadoso e técnico para perceber que, sem esse suporte, teremos problemas graves no campo: produtores com menor capacidade financeira para plantar e, consequentemente, risco real de redução na produção de alimentos.
O orçamento previsto para 2025 disponibilizava cerca de R$ 1 bilhão, valor já insuficiente para manter o setor aquecido. Segundo o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), R$ 445 milhões do Programa de Subvenção foram congelados para cumprir a meta fiscal. É um movimento na contramão do crescimento do país, sem sinal de reversão para a próxima safra de verão.
Outro ponto relevante é a falta de profissionais especializados e qualificados para atuar no seguro rural e em suas modalidades. No campo da corretagem, de acordo com Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg, há apenas cerca de 20 corretores especializados em pecuária e cerca de 200 em agrícola em todo o país.
Mas não é apenas a profissão de corretor de seguros que enfrenta escassez. Em perícia agrícola, geralmente o profissional não atua no mesmo município, é terceirizado pelas seguradoras e, devido à sazonalidade, é difícil manter fidelidade. Trata-se de uma relação técnica e frequentemente conflituosa. Ainda assim, um terreno produtivo para quem deseja crescer e prosperar, como muitas outras áreas do setor agrícola que sofrem com falta de mão de obra especializada.
Sobre o novo Contrato do Seguro (Lei nº 15.040/2024), que entrará em vigor em dezembro, o artigo 86 chama atenção ao estabelecer prazo de 30 dias para que a seguradora se manifeste quanto ao aceite da cobertura — o chamado prazo decadencial. Se esse prazo for ultrapassado sem resposta, entende-se que há concordância com a indenização. No seguro agrícola, regularizar um sinistro nesse intervalo é um dos grandes desafios: analisar se há cobertura, se a região afetada está prevista na apólice, se houve ou não manejo adequado, entre outros fatores. É um caminho cheio de pedregulhos, mas advogados e agentes do mercado buscam ajustes para mitigar esses riscos. Há, sim, quem lute pelo rural.
E como sempre afirmo: existe esperança para a existência do seguro rural. Tanto que há possibilidade de a Susep estender o prazo de regulação para 120 dias — medida já autorizada para grandes riscos. Há um pedido em andamento para ampliar essa regra também ao seguro rural, e a decisão deve ocorrer até o final de novembro.
Parece antagônico apresentar tantos desafios e ainda acreditar que tudo pode mudar. Mas é essencial manter acesa a esperança citada por Roberto Rodrigues, porque tudo depende de posicionamento e visão estratégica. Como mudar esse cenário? Reconhecendo que há especialistas, técnicos, executivos e advogados empenhados em fortalecer o seguro rural como instrumento estratégico de gestão de risco, com maior aceitação, novas possibilidades e políticas públicas alinhadas às necessidades de todos os atores do setor.
Um setor pujante não pode operar de maneira reativa às mudanças climáticas e às suas consequências, penalizando produtores, a economia nacional e até as relações internacionais.
Há, sim, esperança para o seguro rural — e ela precisa ser defendida todos os dias.

Tany Souza é jornalista, CEO e Fundadora do Portal Seguro Rural Brasil. Atua há mais de 20 anos no setor de seguros, foi premiada por três anos consecutivo em 1º lugar no Prêmio Sincor-GO de Jornalismo, um prêmio voltado para matérias sobre seguro rural. Esteve por quatro anos sequenciais entre as finalistas do prêmio Fenacor de Jornalismo, ocupando o 2º lugar na categoria imprensa Especializada, em 2017. Possui alguns artigos publicados no site Sou Segura, voltados para o empreendedorismo feminino e para a comunicação e marketing.