O novo marco do risco climático
- 1/ dezembro / 2025
A redefinição de modelos de subscrição e a inovação no mercado segurador

Simone Ramos
Os debates realizados na COP30, em Belém, evidenciaram uma inflexão profunda no setor segurador. Ali, diante de pesquisadores, reguladores, seguradoras, corretores e instituições financeiras, ficou claro que o risco climático deixou de ser uma tendência observacional e passou a ocupar o centro da estrutura técnica do mercado. O que antes era tratado como projeção agora integra decisões de subscrição, governança, precificação e inovação.
Ao longo das discussões na Casa do Seguro, percebeu-se que o clima reorganizou a lógica do risco. Não basta mais avaliar perdas históricas para projetar o futuro. Eventos extremos recorrentes, riscos de transição, riscos legais e impactos operacionais criaram uma matriz complexa e interdependente, exigindo métricas mais robustas, governança consistente e capacidade de antecipação. A boa parte é que, finalmente, os diferentes atores reconhecem que nenhuma transição será eficaz sem integração técnica real.
A COP30 reforçou que adaptação e mitigação não são agendas paralelas. Empresas seguradas terão de revisar processos, repensar infraestrutura, fortalecer governança climática e incorporar dados científicos em decisões estratégicas. Setores como o logístico, portuário, industrial e energético começam a admitir que a resiliência operacional depende de incorporar o clima como variável de risco — não como área acessória de sustentabilidade.
No âmbito do mercado, ficou evidente que os modelos tradicionais já não respondem à realidade atual. A pressão sobre capacidade, limites e apetite de risco exige ferramentas mais sofisticadas: modelagem climática, projeções de cenários, análises de frequência e severidade e integração com sistemas de monitoramento. Daí ganham relevância soluções como seguros paramétricos, infraestrutura verde, instrumentos nature positive, restauração ecológica, mecanismos que combinam crédito e seguro e sistemas de gestão orientados por dados.
Além disso, a COP30 evidenciou o fortalecimento dos padrões internacionais de disclosure climático, com destaque para dois instrumentos centrais:
Ambos reforçam a necessidade de que o mercado segurador apresente transparência técnica, demonstre maturidade e incorpore o clima na avaliação de solvência, subscrição e precificação. Trata-se de uma mudança estrutural: o seguro deixa de ser uma resposta somente após o evento e passa a atuar como ferramenta preventiva, estratégica e sistêmica.
Durante os debates, um ponto se impôs: o ambiente de risco atual exige outra régua de análise, outra velocidade e outra capacidade de leitura. Não se trata de mudar o jogo, mas de reconhecer que o terreno mudou — e que permanecer usando referências antigas significa operar em vulnerabilidade crescente.
Assim, o que se viu na COP30 não foi apenas um encontro setorial. Foi a consolidação de um novo marco. O risco climático tornou-se eixo estruturante da operação do seguro. Ele redefine modelos, pressiona padrões, acelera inovação e convoca o setor a assumir protagonismo na construção da resiliência econômica.
A conclusão é clara: o mercado segurador não está apenas acompanhando a transição climática — ele está sendo reposicionado por ela. E, dentro desse reposicionamento, emerge um setor mais técnico, mais integrado e mais consciente do papel que terá na proteção da economia real em um mundo que já mudou.