COP 30 – A reconstrução do seguro rural em meio ao clima extremo
- 21/ novembro / 2025
O evento expõe a urgência de modernizar modelos de proteção e aproximar tecnologia, produtores e políticas de Estado
Por Tany Souza
O primeiro painel da tarde, “Seguros como instrumento de proteção da produção agrícola no contexto da transição climática”, abriu caminho para um diagnóstico incômodo: a distância entre a relevância global do agro brasileiro e a baixa cobertura de seguro. Mediando o debate, Esteves Colnago, diretor de Relações Institucionais da CNseg, resumiu o paradoxo. “É contraditório que uma potência agrícola mantenha apenas 3% a 5% da área plantada segurada num momento em que o clima se torna cada vez mais instável.”
Eduardo Brito Bastos, diretor da ABAG, destacou que 40% dos empregos globais têm ligação com a agricultura e que o mundo precisará produzir 900 milhões de toneladas adicionais de grãos até 2050. Sem tecnologia e recuperação de áreas degradadas, isso equivaleria a desmatar a soma de Pará e Minas Gerais. Para ele, produtividade, ciência e políticas públicas são pilares para reduzir a vulnerabilidade dos produtores.
Tecnologia como eixo estruturante
Paulo Hora, superintendente executivo da Brasilseg, mostrou como geotecnologia e modelagem de risco já permitem produtos mais aderentes às realidades regionais. “Uma única seca pode gerar 20 mil sinistros em dez dias”, lembrou, reforçando a necessidade de bases programáticas sólidas para manter o seguro viável.
A análise ganhou profundidade com Pedro Loyola, coordenador da FGV Agro – OSR. Ele defendeu regulação mais clara, profissionalização da cadeia e o uso complementar do seguro paramétrico, sobretudo para pequenos produtores. Rafael Marani, diretor de Agronegócios da Allianz Seguros, acrescentou que simplicidade na contratação e agilidade nos sinistros são condições mínimas para que o seguro se torne parte do “pacote tecnológico” da fazenda.
No segundo painel, dedicado à inovação, dados e conectividade foram apresentados como novos insumos estratégicos. Ivo Kanashiro, superintendente de Sustentabilidade da MAPFRE, afirmou que práticas sustentáveis reduzem risco e fortalecem a base técnica do seguro. Jairo Costa, gerente de Seguros da Syngenta, aproximou o debate do campo ao destacar que adoção tecnológica exige demonstração prática de resultado, citando o ecossistema Cropwise como exemplo de integração de dados, manejo e produtividade.
Murilo Oliveira, CEO da AUDSAT, reforçou o impacto do monitoramento diário por satélite na subscrição e regulação. Segundo ele, a tecnologia substitui “suposição por evidência”, reduzindo conflitos na indenização. Já Raquel Martins Montagnoli, head de Sustentabilidade da CNH, alertou para a limitação de conectividade: apenas um terço do território agrícola está coberto. Propriedades que incorporam telemetria, estações solares e agricultura regenerativa, segundo ela, perdem menos em anos críticos.
O conjunto das discussões aponta uma mesma direção: sem tecnologia, política de Estado e coordenação entre produtores, seguradoras e governo, o seguro rural seguirá incapaz de acompanhar a velocidade das mudanças climáticas — justamente quando se torna mais necessário para sustentar a resiliência do agro brasileiro.