Taxação dos EUA: um alerta para o setor florestal brasileiro e para cadeia produtiva
- 14/ julho / 2025
Consequências econômicas e necessidade de solução diplomática
Por Ailson Loper*
A recente decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros pegou nosso setor de surpresa — e não foi uma boa surpresa. O impacto imediato foi de perplexidade, seguido de preocupação real com os efeitos que essa medida pode gerar para toda a cadeia produtiva florestal brasileira, especialmente para os estados do Sul, que lideram as exportações para o mercado norte-americano.
O que torna essa decisão ainda mais delicada é justamente o fator surpresa. Não se esperava esse anúncio neste momento, principalmente depois de uma tarifa semelhante já estar em vigor desde o dia 1º de abril. Esse segundo movimento tarifário agrava um cenário que já vinha desafiador, com custos logísticos elevados e um mercado global cada vez mais competitivo.
É importante destacar que os argumentos apresentados pelos Estados Unidos não se sustentam do ponto de vista econômico. A justificativa seria um suposto desequilíbrio na balança comercial entre os dois países — algo que, de fato, não corresponde à realidade. O Brasil é deficitário nessa relação, e por isso fica evidente que a medida tem mais fundo político do que técnico ou comercial.
E quando a motivação é política, a solução também precisa ser. Estamos diante de um problema que exige articulação diplomática, diálogo entre governos e mobilização rápida para preservar a competitividade do setor florestal brasileiro. Temos uma janela de 23 dias para tentar reverter ou ao menos mitigar os efeitos dessa taxação. É nesse curto prazo que o Brasil precisará concentrar seus esforços, com inteligência estratégica e senso de urgência.
Ao mesmo tempo, é fundamental que a indústria comece a se preparar para um cenário adverso. Precisaremos pensar em alternativas, buscar novos mercados, avaliar os custos internos e redesenhar nossas estratégias comerciais, caso não haja avanço nas negociações.
O Paraná, estado que represento por meio da APRE Florestas, é um dos maiores exportadores de produtos florestais para os Estados Unidos. Compensados, madeira serrada, molduras de pinus — todos itens essenciais para a construção civil norte-americana — têm origem aqui. Dados da Fiep mostram que cerca de 40% da madeira exportada para os EUA vem do nosso estado. Em 2025, os três estados do Sul responderam por US$ 1,37 bilhão em exportações de madeira para o mercado norte-americano, o que representa 86,5% de tudo o que o Brasil exportou nesse segmento.
Essa alta nas tarifas coloca em risco a competitividade de um setor que movimenta bilhões de reais, gera milhares de empregos diretos e indiretos e desempenha um papel estratégico para a economia nacional. Não é apenas uma questão comercial — é uma questão de soberania produtiva, de proteção a uma cadeia que é vital para o desenvolvimento sustentável do Brasil.
Por isso, fazemos um apelo firme e direto: é hora de o governo brasileiro agir com velocidade e firmeza. Precisamos garantir que nossos produtos continuem tendo espaço no mercado internacional. E mais do que isso: precisamos de previsibilidade, segurança jurídica e estabilidade para continuar investindo, produzindo e gerando valor. Estamos prontos para contribuir com soluções, dialogar com as autoridades e unir forças em prol do setor florestal. Mas o tempo é curto, e o momento exige ação.

Ailson Loper é diretor-executivo da APRE. Atualmente é professor do Departamento de Economia Rural e Extensão-DERE, do Setor de Ciências Agrárias-SCA da UFPR, e Diretor executivo da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE). Tem experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Economia Florestal, atuando principalmente nos seguintes temas: política florestal, associativismo, mercado florestal, empreendedorismo, uso de madeira na construção, desenvolvimento florestal sustentável. Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (2004), mestrado em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (2007) e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (2017).