Sistemas de integração pecuária-floresta
- 9/ dezembro / 2024
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Seus impactos positivos no enfrentamento das mudanças climáticas
Elaine Teixeira
Os sistemas de Integração Pecuária-Floresta (IPF) representam uma estratégia sustentável para promover a produção agropecuária em harmonia com o meio ambiente, especialmente no contexto das mudanças climáticas. Ao combinar o cultivo de árvores com a criação de animais, esses sistemas oferecem benefícios ecológicos significativos, como o aumento do estoque de carbono e a preservação dos recursos hídricos no solo, contribuindo para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa e o sequestro de carbono atmosférico.
A adoção de sistemas IPF proporciona um aumento significativo no estoque de carbono. A presença de árvores em áreas de pastagem ou no entorno das áreas de pecuária permite o acúmulo de carbono nas raízes, troncos e folhas, funcionando como um reservatório de longo prazo. Estudos demonstram que a introdução de árvores como Eucalyptus spp. ou espécies nativas do bioma Cerrado, como Myracrodruon urundeuva (aroeira) e Anadenanthera colubrina (angico), em sistemas pecuários, pode aumentar a capacidade de sequestro de carbono em até 30% quando comparado a pastagens convencionais. Esses estoques de carbono, associados à biomassa aérea e ao solo, são fundamentais para neutralizar parte das emissões oriundas da pecuária, como o metano, e fortalecer a resiliência climática da propriedade.
Além do sequestro de carbono, a integração florestal em áreas de pecuária também auxilia na preservação da água no solo. A cobertura vegetal formada pelas árvores reduz a incidência direta da radiação solar e diminui a evaporação da água na superfície do solo. A queda de folhas e galhos nas áreas de pastagem ainda contribui para a formação de matéria orgânica e aumento da capacidade de retenção hídrica do solo. Como resultado, os sistemas IPF reduzem a necessidade de irrigação e mantêm as condições mais favoráveis ao crescimento das gramíneas durante o ano todo, incluindo as épocas mais secas. Em regiões de clima semiárido, como o nordeste brasileiro, essa retenção hídrica pode representar uma diferença significativa na produtividade pecuária, aumentando a resiliência do sistema frente a períodos de estiagem.
Para potencializar os benefícios dos sistemas IPF, a escolha das espécies florestais e os arranjos espaciais são fatores essenciais. Espécies como Eucalyptus urophylla, que possui rápido crescimento e alta capacidade de sequestro de carbono, são comumente utilizadas em sistemas de integração. Além disso, árvores nativas como o pau-santo (Kielmeyera coriacea) e o ipê (Tabebuia spp.) podem ser incorporadas, fortalecendo a biodiversidade local e favorecendo a regeneração ecológica. A disposição das árvores em fileiras, com espaçamento de 12 a 15 metros entre as linhas, permite a penetração de luz solar suficiente para o desenvolvimento das pastagens, enquanto mantém uma densidade arbórea adequada para a captura de carbono e a regulação do microclima.
Outro arranjo interessante para os sistemas IPF envolve o plantio de árvores em blocos, permitindo a rotação das áreas de pastagem e promovendo o descanso do solo. Nessa abordagem, áreas com árvores ficam isoladas por determinado período, enquanto outras são utilizadas para pastagem. Esse manejo rotacionado também beneficia o solo, prevenindo a compactação e permitindo a ciclagem de nutrientes e água com maior eficiência.
Os sistemas de Integração Pecuária-Floresta contribuem positivamente para a mitigação das mudanças climáticas ao promover o sequestro de carbono e preservar a água no solo, tornando as atividades pecuárias mais sustentáveis e resilientes. A escolha cuidadosa das espécies e dos arranjos florestais, adaptados ao bioma e às condições climáticas locais, é essencial para o sucesso e a eficiência desses sistemas.