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Pecuária paulista perde 2,3 mil animais em incêndios, calcula ONG

Além da perda de animais, queimadas diminuem a qualidade do solo e aumentam custos da produção, alerta Embrapa

Por Agro Estadão

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Os incêndios em São Paulo provocaram a morte de 2,3 mil animais, entre bovinos e frangos, segundo levantamento da ONG Sinergia Animal. Em um único assentamento na área rural de Pradópolis, as chamas causaram a morte de 217 porcos, frangos e galinhas. E em Santo Antônio do Aracanguá, ao menos 43 bois morreram carbonizados em uma fazenda.

Além das consequências diretas, os incêndios também causaram problemas logísticos e de infraestrutura, impactando o transporte de animais. Ainda de acordo com a ONG, na estrada entre Batatais e Ribeirão Preto, dois mil frangos morreram em três caminhões parados nos bloqueios causados pelo fogo. A situação foi agravada pela alta temperatura.

Em uma fazenda em Itirapina, cerca de 70 bois conseguiram romper a cerca para fugir do fogo. Outros não tiveram a mesma sorte — em Ribeirão Preto, a Defesa Civil relatou que vacas e porcos presos em um curral não conseguiram escapar das chamas. O mesmo ocorreu em Boa Esperança do Sul, onde dez porcos e um bezerro foram mortos pelo incêndio que se alastrou rapidamente. Casos semelhantes foram registrados em Santa Isabel e em um haras tomado pelo incêndio em Guapiaçu.

A Defesa Civil declarou que ainda está levantando o número total de animais impactados pela tragédia nas cidades da região. “Mesmo os animais que sobreviveram agora correm risco de sofrer com a falta de alimento em áreas de pasto amplamente devastadas pelo fogo, como já vem ocorrendo no Pantanal”, alerta  a diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil, Cristina Diniz. 

Prejuízos com incêndios em SP somam mais de R$ 1 bilhão

No mais recente levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) de São Paulo, os prejuízos no agronegócio paulista passam de R$ 1 bilhão com os incêndios.  A SAA estima que cinco milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram perdidas. Além da cana, bovinocultura de leite e de corte, também foram afetadas a cafeicultura, heveicultura, apicultura e eucalipto. O número de animais mortos ainda está sendo calculado.

Dados mais recentes, levantados pelas Regionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) do governo paulista, apontam que foram atingidas 8.049 propriedades em 317 municípios paulistas de 39 Regionais da CATI. O aumento dos números já era previsto desde o início da semana, quando entidades e governo iniciaram a apuração das consequências das queimadas.

Já a  Orplana (Organização das Associações de Produtores de Cana) calcula que 80 mil hectares de cana e áreas de rebrota foram queimados. 

Recorde de focos de incêndio e 48 municípios em alerta máximo

Em apenas dois dias, São Paulo registrou quase sete vezes mais incêndios do que em todo o mês de agosto de 2023 e mais focos do que todos os meses de agosto desde 1998. Os números são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 2,3 mil focos de incêndio só no fim de semana, queimando mais de 20 mil hectares e deixando 48 cidades do interior de São Paulo em alerta máximo para queimadas.

“Estamos diante de uma tragédia de proporções imensuráveis. Lamentavelmente, este não é um caso isolado — como vimos nos incêndios no Pantanal e nas enchentes no Rio Grande do Sul, onde mais de 1 milhão de animais da pecuária foram impactados. É preciso urgentemente estabelecer planos de contingência eficazes que incluam esses animais em casos emergenciais e repensar os nossos sistemas alimentares para combater a crise climática”, conclui a diretora da Sinergia Animal no Brasil. 

Queimadas diminuem qualidade do solo e aumentam custos de produção

Além do impacto econômico, social e ambiental, as queimadas afetam as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos. Conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), grandes quantidades de carbono, nitrogênio, potássio e enxofre são perdidas para a atmosfera por volatilização durante a combustão.

De acordo com o pesquisador e especialista em solos, Alberto Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste, essa alteração no solo causada pelo fogo tem consequências na biodiversidade e na manutenção de processos ecossistêmicos a longo prazo. 

“A queima da cobertura vegetal deixa a área descoberta, levando a maior absorção da radiação solar, com ampliação da temperatura e do ressecamento ao longo do dia. Porém, à noite, ocorre a perda de calor pela exposição, elevando assim a amplitude das variações térmicas diárias. Essas oscilações prejudicam a absorção de nutrientes e a biologia do solo. Outro problema é a erosão, pela ação do vento e o impacto da chuva, que leva à compactação ou selamento superficial. O resultado é menor infiltração de água e aumento do escoamento superficial”, explica Bernardi em publicação da Embrapa. 

Logo após a queimada, a renovação da vegetação pode deixar uma impressão positiva, no entanto, o efeito é apenas temporário. Segundo a Embrapa,  essa brotação de novas plantas ocorre porque as cinzas são compostas por grande quantidade de nutrientes (Cálcio, Magnésio, e Potássio, principalmente) estocados na fitomassa e liberados na superfície do solo com o fogo.

Já, a longo prazo, o estoque de carbono do solo é perdido, porque a baixa disponibilidade de nutrientes levará a maior mineralização da matéria orgânica armazenada. Portanto, a recuperação do solo pode levar cerca de três anos, com custos elevados para os produtores, que precisam investir no fornecimento de nutrientes para restaurar a área afetada.

Incêndio em área da Embrapa Pecuária Sudeste

Uma área da Embrapa Pecuária Sudeste foi atingida pelo fogo. No sábado, 24 de agosto, um incêndio foi iniciado na mata do centro de pesquisa, localizado em São Carlos (SP), às margens da rodovia Guilherme Scatena.

Em pouco tempo, os brigadistas conseguiram conter as chamas, trabalhando para que o cenário de 2021 não se repetisse. O fogo chegou a atingir uma pastagem onde estavam vacas de corte da raça Nelore. Elas foram retiradas e levadas para outro local de pasto mais seguro.

Segundo Cesar Cordeiro, presidente da Brigada de Incêndio da Embrapa, foram queimados cerca de 10 hectares de pastagem e 11 hectares de mata. Também houve prejuízo com perda de infraestrutura, como cercas e mourões. Porém, nenhuma área de pesquisa foi afetada.  

 

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