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Agronegócio em transformação: desafios e inovação frente às mudanças climáticas

Por Ney Dias*

Recentemente tive a oportunidade de interagir com várias lideranças do Agronegócio, tanto de cooperados quanto de grandes empresas. São inegáveis os avanços na produtividade, consciência ecológica e na competitividade do produtor brasileiro. No entanto, ainda existem muitas oportunidades de maior cobertura e proteção de seguro, não só da safra, maquinário e equipamentos, especialmente com o agravamento dos eventos climáticos, mas também de suas famílias e funcionários em relação a saúde, vida e previdência.

As consequências das alterações climáticas no mundo há muito deixaram de ser meras previsões e passaram a fazer parte de nossa realidade. Os efeitos dos eventos climáticos recorrentes, como ciclones e vendavais mais intensos, secas prolongadas e fortes inundações, são cada vez mais tangíveis e perceptíveis para todos.

Em situações de catástrofes naturais, as seguradoras e resseguradores, aliados aos corretores especializados no segmento, tem exercido um papel cada vez mais relevante. Embora um desastre natural seja geralmente de baixa previsibilidade e antecipação, é possível sempre se preparar melhor. Com um planejamento adequado de capacidade, é possível garantir a atuação nestas circunstâncias especiais, reduzindo o tempo de resposta para o pagamento de sinistros, o que é fundamental nesses momentos de urgência. Após um desastre climático, as seguradoras tem desempenhado um papel crucial na resiliência da sociedade, fornecendo fundos para reparação e reconstrução, ajudando as comunidades a se recuperarem mais rapidamente. Nesses momentos é nítida também a pouca penetração do seguro ou sua subcontratação de coberturas e valores.

Claro que a adaptação às mudanças climáticas não envolve apenas a reação a desastres naturais, mas principalmente a implementação de medidas preventivas. Nesse contexto, o mercado segurador desempenha um papel importante ao agronegocio, oferecendo a proteção que permite aos agricultores a proteger seus cultivos, equipamentos e infraestrutura contra riscos como desastres naturais, pragas, doenças e variações climáticas imprevisíveis.

A tecnologia agrícola, conhecida como agrotech, pode ajudar os agricultores a tomar medidas proativas para reduzir os riscos em suas operações. Isso pode incluir o uso de previsões climáticas avançadas, sistemas de irrigação eficientes e práticas de cultivo de precisão. À medida que os riscos são reduzidos, as seguradoras podem oferecer taxas de seguro mais competitivas, tornando o agronegócio mais sustentável e resiliente às mudanças climáticas. Segundo dados da SUSEP – Superintendência de Seguros Privados, a arrecadação do setor de Seguros nos ramos de Máquinas & Implementos Agrícolas passou de R$ 916 milhões no primeiro quadrimestre de 2022 para R$ 1,3 bilhão em igual período de 2023, o que representa um crescimento de 45%.

A colaboração entre empresas agrotech e seguradoras é fundamental. Ela pode levar ao desenvolvimento de produtos de seguro agrícola inovadores que atendam às necessidades específicas dos agricultores modernos. Por exemplo, seguros baseados em dados de satélite ou drones podem se tornar mais comuns, permitindo uma avaliação mais precisa dos riscos e ações preventivas mais eficazes.

O agronegócio tem sido reconhecido como um vetor crucial do crescimento econômico brasileiro. Em 2020, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,98 trilhão ou 27% do PIB brasileiro. Atualmente, o Brasil é o quarto maior exportador mundial de produtos agropecuários, aproximadamente USD 100,7 bilhões, atrás apenas da União Europeia, EUA e China, segundo Ministério da Agricultura.

No cenário internacional, o Brasil emergiu como um líder nas exportações agrícolas, ultrapassando os Estados Unidos em setores-chave, como a produção de milho. Com uma participação significativa nas exportações globais de milho, o Brasil se destaca como um exemplo de como a tecnologia agrícola, o mercado segurador e a inovação podem contribuir para o sucesso do agronegócio, mesmo em um contexto de mudanças climáticas.

Além disso, o Brasil investe em educação e formação profissional em agronegócio, com várias instituições de ensino, escolas técnicas e cursos especializados. Essas instituições desempenham um papel fundamental na preparação de profissionais qualificados que contribuem para o sucesso do agronegócio brasileiro.

Mais do que isso, é possível mitigar perdas futuras com tecnologia e pesquisas. O setor segurador tem uma função na avaliação de riscos ligados às mudanças climáticas. As companhias investem na utilização de dados e estudos para antecipar e compreender o potencial impacto das mudanças climáticas nas perdas seguradas no futuro. Além disso, para atender essas novas necessidades de proteção do segurado, o mercado segurador desenvolve produtos específicos em diversos ramos, readéquam processos para atendimentos em momentos de intempéries climáticas intensas, buscam parcerias estratégicas e debatem sobre uma regulamentação mais adequada aos novos tempos.

Em resumo, o seguro já tem um papel importante na gestão de riscos associados às mudanças climáticas, contribuindo para a resiliência e a mitigação, bem como a proteção financeira das pessoas e empresas impactadas. No entanto, ainda existe um imenso espaço para aumento dessa proteção. Um desafio gigante, mas a altura dos nossos produtores, seguradores, resseguradores e corretores.


Ney Dias é Diretor-presidente na Bradesco Auto/RE, empresa do Grupo Bradesco Seguros. Membro dos conselhos da Europ Assistance e da Swiss Re Corporate Solutions.

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