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A sustentabilidade no agronegócio e a importância do Seguro Rural

Por Elaine Cristina Teixeira*

Por uma perspectiva sociológica, observa-se no agronegócio um processo muito comum nas últimas décadas, que é a busca por índices de produtividade cada vez maiores baseados no uso intensivo de máquinas e equipamentos, insumos agroquímicos, combustíveis fósseis e na degradação dos recursos naturais, que vem apontando para os limites da sustentabilidade, econômica e ambiental, dos atuais sistemas de produção agropecuários. Isso aponta para a necessidade de criação de novos modelos para a agricultura e pecuária do século XXI, com evidente necessidade de uso e difusão de novas práticas coerentes com os preceitos do desenvolvimento sustentável. Contudo, o agronegócio está atrelado intimamente as incertezas que fogem do alcance do produtor.

Uma rede de segurança para os agricultores, assegurando que eles possam se recuperar de eventos adversos sem comprometer sua estabilidade financeira, torna-se fundamental Dados recentes mostram que o setor agropecuário brasileiro enfrentou perdas significativas entre 2013 e 2022, devido a eventos climáticos extremos. Segundo a CNM (Confederação Nacional de Municípios) os danos por perdas com secas e geadas ultrapassam a casa dos R$ 200 bilhões, destacando a necessidade de mecanismos de proteção financeira robustos. Assim, o seguro rural permite que os produtores mantenham seus investimentos e continuem a produzir, mesmo diante de adversidades.

Nesse âmbito, o seguro rural pode ser uma ferramenta crucial para a proteção dos produtores agrícolas contra as incertezas inerentes à atividade agropecuária, como variações climáticas, pragas, doenças e outros eventos adversos. No entanto, sua relevância transcende a simples mitigação de riscos financeiros, incorporando um papel vital na promoção da sustentabilidade no agronegócio. Adoção de práticas conservacionistas de solo, sistemas de produção integrados, tais como sistemas agrossilvipastoris, são forte aliados na redução de gases de efeito estufa e estoque de carbono no sistema agropecuário. São fatores que não apenas melhoram a viabilidade econômica das operações agrícolas, mas também influenciam positivamente a adoção e a eficácia dos seguros rurais.

A adoção de práticas conservacionistas de solo, como o plantio direto, a rotação de culturas e a utilização de adubação verde, desempenha um papel essencial na manutenção da saúde do solo e na produtividade agrícola. Essas práticas não apenas preservam a fertilidade do solo, mas também reduzem a erosão e melhoram a retenção de água, mitigando os impactos negativos de eventos climáticos extremos. Além disso, terrenos bem manejados apresentam menor risco de perda, resultando em reduções significativas nos prêmios de seguros rurais.

Os sistemas de produção integrados, que combinam a produção agrícola, florestal e pecuária em uma única área, promovem a biodiversidade e a eficiência do uso dos recursos. Esses sistemas são altamente sustentáveis e podem aumentar a resiliência das operações agrícolas contra eventos climáticos adversos. A diversidade de culturas e atividades reduz o risco de perda total, uma vez que a falha de uma componente pode ser compensada pelo sucesso das outras. Consequentemente, produtores que adotam esses sistemas podem se beneficiar de condições mais favoráveis em seus contratos de seguro rural.

A cadeia do agronegócio é uma fonte significativa de emissões de gases de efeito estufa, mas práticas sustentáveis podem contribuir para sua redução. A integração de tecnologias de baixa emissão, como a agricultura de precisão e o manejo sustentável de pastagens, pode diminuir a pegada de carbono das operações agrícolas. A adoção de tais práticas é vista de forma positiva pelas seguradoras, que estão cada vez mais interessadas em apoiar atividades que demonstram responsabilidade ambiental. Em muitos casos, isso pode se traduzir em prêmios de seguro mais baixos para produtores que demonstram esforços claros na redução de emissões.

Bens de consumo essenciais para o agronegócio, como tratores, implementos, drones e animais de alto padrão genético, se beneficiam significativamente de um ambiente que valoriza tanto o seguro rural quanto a sustentabilidade. Tratores e implementos modernos são frequentemente mais eficientes e menos poluentes, se alinhando com práticas sustentáveis e sendo passíveis de seguros mais favoráveis. Drones auxiliam no monitoramento preciso das condições das culturas, promovendo uma gestão mais eficaz e sustentável. Animais de alto padrão genético, por sua vez, requerem investimentos substanciais, e sua proteção via seguros é crucial para garantir a continuidade das operações de melhoramento genético e produção pecuária.

A interseção entre seguro rural e sustentabilidade no agronegócio oferece uma abordagem integrada para enfrentar os desafios contemporâneos do setor. Adoção de técnicas de manejo sustentável supracitadas acima no setor agropecuário não apenas promovem a sustentabilidade, mas também podem influenciar positivamente a adoção de seguros rurais para o desenvolvimento de um agronegócio mais resiliente e sustentável no Brasil e no mundo.

Elaine Teixeira é professora do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de São João del Rei, Formada em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras. Mestre em Produção Vegetal no Semiárido pela Universidade Estadual de Montes Claros. Doutora em Zootecnia pela UFMG. Atuo nas áreas de Sistemas Agrosilvipastoris, Plantas Alternativas na Alimentação de Ruminantes, Agropecuária Regenerativa, Pecuária Sustentável, Conservação e Manejo de Fauna Silvestre.

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