2 de November de 2024
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Indenizações de seguradoras podem ascender a R$ 15 bilhões por catástrofe no Rio Grande do Sul

  • maio 22, 2024
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Levantamento sobe o impacto da tragédia foi apresentado pela Cogo Inteligência em Agronegócio Por Agrofy News As enchentes no Rio Grande do Sul podem se tornar o evento climático de maior

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Indenizações de seguradoras podem ascender a R$ 15 bilhões por catástrofe no Rio Grande do Sul

Levantamento sobe o impacto da tragédia foi apresentado pela Cogo Inteligência em Agronegócio

Por Agrofy News

As enchentes no Rio Grande do Sul podem se tornar o evento climático de maior perda para a indústria de seguros no Brasil, ultrapassando a seca de 2022, que também afetou ao Estado.

De acordo com a Cogo Inteligência em Agronegócio, o volume de indenizações pelas inundações pode variar entre R$ 9 bilhões a R$ 15 bilhões, embora ainda seja difícil dar uma dimensão exata do impacto.

A maior perda causada por um evento climático no Brasil é a da seca provocada pelo fenômeno La Niña em 2022, e que levou a um volume de indenizações próximo a R$ 9 bilhões.

Naquele ano, as perdas foram concentradas no seguro agrícola, em que o volume total de sinistros no País saltou dos R$ 6,5 bilhões de 2021 para R$ 10,4 bilhões, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep).

O Rio Grande do Sul é o quarto maior mercado do setor no País, com cerca de 7% da arrecadação nos quatro primeiros meses do ano, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A importância, porém, varia de acordo com o ramo de negócio: no seguro rural, é o terceiro maior mercado, com 11,3% do total arrecadado de janeiro a abril deste ano.

Os impactos podem acontecer em diversas linhas em que atua, como o patrimonial, o rural e o residencial, desde que os contratos tenham coberturas para alagamentos e enchentes.

A consequência pode ser limitada por operações de retrocessão, que restringem o tamanho das perdas. A retrocessão é o repasse de contratos pelos resseguradores a outros agentes de mercado, e em geral, acontece no mercado internacional.

Os desdobramentos não devem aparecer de uma vez só, mas ao longo do tempo, e tendem a vir antes nas seguradoras. Quando um cliente aciona um seguro, a seguradora faz a chamada regulação, ou seja, avalia se de fato o sinistro ocorreu e se é coberto pela apólice.

Em caso afirmativo, paga a indenização, e só depois busca a resseguradora, que faz o mesmo processo. O seguro rural deverá ser uma das prioridades do Executivo nas medidas emergenciais de apoio ao Rio Grande do Sul.

Há um problema de sinistro no Estado sem precedentes e sem previsão possível nem pelas seguradoras nem pelos produtores. A situação de elevado índice de sinistros no Estado já vem das últimas três safras, afetadas por seca.

O evento traz de volta à discussão um tema antigo: a baixa cobertura de seguros no Brasil. Em geral, o nível de proteção no Brasil em produtos de seguro que cobrem impactos de desastres climáticos é muito baixo.

Estimativas de mercado apontam que a lacuna entre os seguros e o potencial de proteção no Brasil é de R$ 421 bilhões. Ainda mais preocupante é o fato de a lacuna de proteção no Brasil estar crescendo em um ritmo de cerca de 20% ao ano maior que o crescimento do mercado segurador, que é de cerca de 12% ao ano.

Quais são as estimativas de perda até agora?

As recentes enchentes no Rio Grande do Sul, desencadeadas pelas intensas chuvas, causaram danos significativos à infraestrutura, afetando mais de 2 milhões de pessoas, deixando em torno de 80 mil desabrigadas e mais de 500 mil desalojadas.

94,3% da atividade econômica do Rio Grande do Sul foi afetada pelas cheias que arrasaram o Estado.

Entre os locais mais atingidos, na Região da Serra o destaque vai para a produção nos segmentos metalmecânico (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis, enquanto na Região Metropolitana de Porto Alegre estão os metalmecânico (veículos, autopeças, máquinas), derivados de petróleo e alimentos.

A Região do Vale dos Sinos tem grande relevância a produção de calçados; e no Vale do Rio Pardo, destacam-se os segmentos de alimentos (carnes, massas) e tabaco.

Por fim, a Região do Vale do Taquari é forte nos segmentos de alimentos (carnes), calçados e químicos. Qualquer balanço é parcial, uma vez que ainda há municípios debaixo d’água e 254 bloqueios em ruas e estradas.

A saída encontrada pelo Ministério da Fazenda para dar suporte financeiro ao Rio Grande do Sul foi a abertura de créditos extraordinários, que poderiam atingir até R$ 50 bilhões.

O governo federal anunciou ainda a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União por 36 meses, sem a cobrança de juros neste período.

A medida dará um alívio financeiro de R$ 11 bilhões ao Rio Grande do Sul, referente ao principal da dívida, além de outros R$ 12 bilhões em juros. Ao invés de receber esse principal, o governo quer que os recursos sejam destinados para um fundo voltado à reconstrução do Estado.

Soja

O Rio Grande do Sul é o segundo maior Estado produtor de soja no Brasil. A colheita no Rio Grande do Sul foi retomada apesar do alto teor de umidade no solo e nas plantas.

As perdas aumentam diariamente com o adiamento da operação (colheita), provocando a abertura de vagens, a germinação de grãos ou seu comprometimento pela proliferação de fungos.

Da soja colhida, se observa redução drástica na qualidade dos grãos, em comparação ao produto obtido antes do excesso de chuvas. Na safra 2023/2024, o Rio Grande do Sul cultivou 6,680 milhões de hectares, a maior área cultivada na história.

A produção estava projetada em 22,5 milhões de toneladas antes das inundações. O excesso de chuvas, desde o final de abril, afetou a parcela de 25% que restavam ser colhidos no Estado. Essas lavouras apresentam perdas que variam de 20% a 100%.

Os prejuízos serão maiores nas regiões Centro, Sul e Oeste do Estado, onde grandes extensões ainda não haviam sido colhidas. Parte dos municípios produtores de soja e parte dos agricultores optou por colher, ainda que o grão esteja em condições não favoráveis e mesmo no período de calamidade.

A colheita não deve avançar muito além disso, já que muitas lavouras, dos 15% restantes, devem ser abandonadas em razão da inviabilidade econômica, ou seja, a colheita dessas áreas não cobre os custos da operação, o frete e os descontos aplicados no recebimento pelas cerealistas.

Dessa forma, esses 15% não colhidos até o início das enchentes representam 3,378 milhões de toneladas afetadas no Rio Grande do Sul. Desse montante, as perdas físicas (em volume) devem atingir 2,5 milhões a 3 milhões de toneladas.

Além das lavouras ainda no campo, os silos localizados em regiões mais baixas também foram afetados. Porém, assim como a situação nos campos, somente nas próximas semanas será possível efetuar o levantamento dessas perdas.

Arroz

O Rio Grande do Sul é o principal estado produtor de arroz no Brasil.

A colheita do arroz avançou muito pouco após um novo período marcado por dias chuvosos, havendo ainda algumas lavouras em condição de alagamento devido à cheia dos cursos d’água. Estima-se que a área colhida alcançou 86% até o dia 16/05.

Parte da produção de arroz estava armazenada em silos nas propriedades. Em alguns casos, a enchente inundou a parte inferior de muitos desses silos, ocasionando perdas elevadas pela falta de energia elétrica para a ventilação da massa de grãos e pela impossibilidade de transporte do produto por causa de danos nas estradas.

Até o momento, não há uma estimativa precisa do número de silos inundados pelas águas. A estimativa é de que a área colhida alcançou 86% dos 900.203 hectares.

A produção estava projetada em 7,5 milhões de toneladas antes das inundações. A produção colhida antes das enchentes atingiu 6,4 milhões de toneladas.

Considerando-se uma estimativa de produtividade de 7.000 Kg/hectare para os 101 mil hectares restantes de área não atingidos pelas cheias, teríamos mais 709 mil toneladas disponíveis, totalizando a produção projetada em 7,1 milhões de toneladas, com perdas de 400 mil toneladas.

Milho 1ª Safra

As elevadas precipitações e o alto teor de umidade do ar, nas últimas semanas, ocasionaram perdas tanto quantitativas – de produtividade – quanto qualitativas – referentes à germinação de grãos em espigas, incidência de doenças fúngicas e desenvolvimento de micotoxinas.

Nas poucas oportunidades de colheita, a cultura da soja foi priorizada em relação ao milho. A colheita atingiu 88% no Rio Grande do Sul até o dia 16/05. A área plantada com milho na 1ª safra foi de 815 mil hectares, com produção projetada em 5,1 milhões de toneladas antes das inundações.

Restavam cerca de 400 mil toneladas de milho a serem colhidas nas regiões mais tardias para a safra de verão, como a Serra. Grande parte disso está perdido.

Trigo

A principal incerteza quanto à safra de trigo do Rio Grande do Sul é se a janela de plantio vai ou não atrasar, já que o plantio da safra 2024 deveria começar entre o fim de maio e início de junho e, se as chuvas prosseguirem, esta data ficará comprometida.

Em algumas regiões, a camada fértil dos solos foi lavada e, com isso, deve aumentar o custo de implantação e fertilização. As dificuldades para as entregas de insumos vão limitar a área de trigo da safra que está para ser semeada, revertendo a expectativa de expansão que havia para o estado.

O Rio Grande do Sul é responsável por 45% da produção nacional de trigo.

Pecuária de Corte

As inundações desencadearam uma série de problemas, destacando-se a erosão do solo e o arraste de sementes de forrageiras devido às enxurradas. A necessidade de replantio é iminente, porém a escassez de sementes de pastagens de inverno no mercado dificulta esse processo.

O excesso de umidade também inviabilizou o pastejo, danificando as plantas e compactando o solo. Em áreas menos afetadas, o campo nativo demonstra resiliência, garantindo ainda uma oferta de forragem.

Entretanto, em algumas regiões do Estado, as enchentes causaram danos irreparáveis às áreas destinadas à pecuária. Os rebanhos estão sofrendo estresse em razão da umidade e da queda nas temperaturas, além da escassez prolongada de forragem.

O manejo dos animais está mais difícil, especialmente por causa do encharcamento das áreas de pastagens e da necessidade de realocação para áreas mais altas em algumas propriedades.

Além disso, as restrições logísticas e sanitárias, decorrentes das condições climáticas, prejudicam a comercialização e o fornecimento de insumos essenciais, agravando, ainda mais, a situação para os pecuaristas.

O acesso a insumos essenciais foi impossibilitado em razão das condições das estradas e do fechamento de pontos de comercialização, o que dificulta o replantio das pastagens afetadas.

Há obstáculos na comercialização em relação à emissão de notas fiscais e ao bloqueio de estradas, reduzindo as transações.

Pecuária de Leite

contexto de chuvas persistentes e de enchentes tem sido desafiador em várias regiões, impactando significativamente o desenvolvimento das pastagens e o bem-estar dos animais.

Há problemas logísticos, como estradas intransitáveis e interrupções na coleta do leite, levando à necessidade de utilização de geradores para ordenha e resfriamento, consequentemente aumentando os custos operacionais para os produtores.

Além disso, a baixa oferta de alimentos e da qualidade do pastoreio causaram redução da produção de leite em diversas propriedades. Os produtores estão preocupados com a dificuldade de escoar a produção em função dos danos em estradas. Também aumentaram os problemas de saúde dos animais, como mastite e lesões.

O setor lácteo é um dos mais ramificados da economia gaúcha, com atuação em 493 dos 497 municípios do Estado.

Suínos e Aves

Produtores de aves e suínos no Rio Grande do Sul estão calculando as perdas causadas pelas chuvas recentes, com danos financeiros significativos.

Na suinocultura, os prejuízos ultrapassam R$ 40 milhões, incluindo danos estruturais e mortalidade animal.

Aproximadamente 12,6 mil suínos foram mortos pelas enchentes e deslizamentos e cerca de 26 mil metros quadrados de instalações foram destruídos total ou parcialmente.

A reconstrução das granjas deve custar mais de R$ 30 milhões, enquanto as perdas em animais são estimadas em cerca de R$ 12 milhões.

Segundo a Asgav, o setor avícola ainda já contabilizou R$ 182,9 milhões em perdas, com mais de 1,2 milhão de aves mortas e dezenas de unidades estruturais destruídas total ou parcialmente.

No setor avícola, as chuvas também levaram à paralisação ou redução das atividades de dez unidades frigoríficas de aves e suínos no Rio Grande do Sul.

Atualmente, três ou quatro plantas ainda estão paradas, incluindo a unidade da Dalia Alimentos em Encantado, que deve retomar as operações no final de maio, e as unidades da Bom Frango em Venâncio Aires e Minuano em Arroio do Meio.

Os produtores estão dando um jeito de racionar e fornecer alimentos alternativos para manter os animais vivos. Durante a primeira semana após os alagamentos, o racionamento da ração estocada garantiu baixa taxa de mortalidade.

Armazenagem

Há presença expressiva de armazéns nos municípios gaúchos afetados pelas enchentes. Parte desses armazéns foi afetada por inundações que vão prejudicar o produto colhido. Essas perdas ainda estão sendo levantadas.

É provável que haja grandes volumes estocados de soja e de arroz.

A capacidade estática atual de armazenagem no Rio Grande do Sul é de 32,7 milhões de toneladas de grãos, em 4.806 unidades armazenadoras.

Desse total, 3.973 unidades são de armazenagem a granel e 833 de armazenagem convencional.

Máquinas e Equipamentos Agrícolas

As perdas neste segmento ainda estão sendo levantadas e serão objeto de um levantamento posterior que está sendo conduzido pela nossa Consultoria. No Rio Grande do Sul, existe uma frota de 273 mil tratores e 53 mil colheitadeiras de grãos.

Cooperativas

Há 369 cooperativas no Rio Grande do Sul e haverá necessidades de reconstrução da infraestrutura dessas, sejam agrícolas ou de eletrificação. Há grande presença das cooperativas na região do Vale do Taquari e na região Central do Estado, entre as mais afetadas pelas enchentes.

As cooperativas ainda calculam prejuízos, mas há relatos de perdas de insumos, de máquinas e equipamentos e de estruturas comprometidas.

Perdas no longo prazo

O ponto central é que os problemas para o Rio Grande do Sul não vão se limitar ao curto prazo. Algumas consequências vão se estender quando a água baixar.

Ainda não dá para estimar quanto tempo vai levar para recuperar pontes, estradas e viadutos danificados pelas enchentes – e quais serão os gargalos com os quais os agricultores e pecuaristas terão de conviver enquanto isso.

Crédito Rural

BNDES autorizou as instituições financeiras credenciadas a não cobrarem de produtores do Rio Grande do Sul parcelas de crédito rural com vencimento entre 1º de maio e 14 de agosto deste ano.

A prorrogação é válida para 15 de agosto para operações de crédito rural contratadas com recursos controlados do BNDES no âmbito do Programa Agropecuário do Governo Federal (PAGF) e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

A renegociação é válida para propriedades localizadas em municípios com reconhecimento de situação de emergência ou de estado de calamidade pública entre 30 de abril a 20 de maio, afetadas pelas fortes enchentes que atingiram o Estado.

As operações serão corrigidas pelos encargos contratuais e mantidas as fontes de recursos. Somente podem ser prorrogadas as operações em situação de adimplência em 30 de abril.

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